O amor deve ser ativo

O amor deve ser ativo

Photo by Johann Walter Bantz on Unsplash


Ainda é muito comum se ouvir entre pessoas que se dizem cristãs certa ideia de que o amor é algo passivo. Muitas vezes, baseando-se no conhecido texto de 1 Coríntios 13, que afirma que o amor tudo suporta, espera e crê, afirma-se que aquele e aquela que segue a Jesus deve simplesmente se resignar diante de tudo o que lhe acontece. De certa forma, a pregação de certo determinismo ainda se faz muito presente no meio cristão.

Esse tipo de postura, por sua vez, facilita muito as diversas justificativas que se dão para os diversos eventos da vida. Algo aconteceu ou deixou de acontecer simplesmente porque Deus assim o quis e quem somos nós para questionar os propósitos desse Deus que reina absoluto sobre todas as coisas. Nesse sentido, determinismo e passividade são fortes companheiros para um cristianismo que tem como meta o além, o pós-vida, ou a tão mal compreendida eternidade.

No entanto, ao observarmos os Evangelhos e aquilo que eles apresentam sobre a vida de Jesus, percebemos algo muito diferente. Afinal, o nazareno, como mostram as diversas pesquisas históricas sobre a vida de Jesus, não era um sujeito passivo, que simplesmente aceitava as coisas como elas se mostravam. Muito menos era alguém que não tomava partido sobre as questões do dia a dia e sobre a situação na qual sua comunidade vivia.

Mais ainda, os Evangelhos não mostram um Jesus preocupado com o além, com uma “cidade celestial” para a qual ele gostaria de voltar depois de ter passado um tempo em sua casa de veraneio, cujo tempo não estava muito agradável durante sua visita.

Muito pelo contrário, esse Jesus se mostrou totalmente partidário, tomando o partido dos pobres, visto ele mesmo ser um deles. Sua escolha para caminhar com os rejeitados, as prostitutas, as indignas, os leprosos e toda sorte de renegados da sociedade, trazendo a essas pessoas refrigério e alívio, saciando a fome, quebrando os ciclos de exclusão, denunciando as maldades que a classe religiosa de seu tempo impunha a essas pessoas revelam que ele escolheu um lado para estar.

Essa decisão foi tão notória que ele foi morto por causa dela. Afinal, estar ao lado dos pobres e anunciar o Reino de Deus que traz a justiça e questiona o status quo não costumam alegrar aos detentores do poder, que desejam cada vez mais aumentar sua opressão sobre o povo.

Ora, se cremos que Jesus é Deus encarnado, afirmamos que aquilo que podemos conhecer de Deus é o que foi revelado por Jesus de Nazaré. Mais ainda, se proclamamos que Deus é amor, então anunciar o Evangelho implica assumir o mesmo compromisso que Jesus de Nazaré teve. Em outras palavras, implica tomar o partido dos pobres, dos renegados, daquelas pessoas que são constantemente oprimidas por um sistema corrupto e por líderes religiosos inescrupulosos.

Faz-se necessário resgatar a atividade do amor proposta nos Evangelhos. Ou seja, resgatar o comprometimento em prol do bem da sociedade, visando a sua transformação não em uma grande igreja convertida a uma religião, mas numa sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Um mundo melhor de se viver aqui e não no além.

Enquanto o cristianismo olhar para o além, sem perceber que é no chão da vida que o Reino deve se fazer presente, a tendência é que se torne uma voz indigna de ser ouvida no mundo atual, esvaziando completamente o exemplo de Jesus.

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