O amor é longânimo

O amor é longânimo

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Talvez o texto de 1 Coríntios 13 seja um dos poemas mais conhecidos no Ocidente, sendo comumente recitado em casamentos, ou em eventos que falam a respeito das relações de amor que se esperam ou se experimentam nas diversas vivências humanas.

Paulo, no poema, introduz a questão do amor dentro de sua perspectiva de apresentar um caminho mais excelente do que aquele que falava no capítulo anterior, a saber, a respeito dos dons. De fato, até mesmo tais dons seriam sem o menor sentido se não houvesse amor, como deixará explícito ao longo do poema.

Ao mesmo tempo, Paulo dá algumas características a respeito desse amor. Neste texto, eu gostaria de focalizar apenas em uma dessas características. No versículo 4, quando começa a falar a respeito das       qualidades desse amor, a primeira delas é de que o amor é paciente, ou como algumas traduções trazem, longânimo.

Os dois termos têm significados semelhantes, embora o termo paciente seja o mais comum de se falar no cotidiano. Se olharmos no dicionário, paciente é aquela pessoa “que sabe esperar com calma e tranquilidade”, sendo também alguém que “persevera na realização de algo; perseverante, persistente”. Longânime, por sua vez, é a pessoa que “tem grandeza de espírito e pratica a generosidade”, alguém que seja “ousado e destemido; corajoso”.

Olhar com atenção essas características nos ajuda a compreender uma visão cristã a respeito do amor. Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, ser paciente não tem a ver com passividade. Pelo contrário, ser paciente tem a ver com a persistência e a perseverança na realização de algum intento. Da mesma forma, a longanimidade pressupõe a coragem e a ousadia para realizar alguma coisa.

Nesse sentido, o amor não somente persevera, mas também tem coragem para fazer aquilo que precisa ser feito no momento oportuno. Claramente, aqui se destrói toda pretensão de que exercer o amor para com outra pessoa tenha a ver com aceitar todas as coisas que a outra faz, discurso, infelizmente, muito utilizado por lideranças para justificar violência doméstica cometida por maridos contra suas esposas.

Muito pelo contrário, o texto mostra que o amor também pressupõe atitudes corajosas e destemidas frente às diversas situações da vida. Em outras palavras, a perseverança e a resiliência andam junto com a coragem quando falamos a respeito do amor.

Aqui algo se mostra muito importante: dentro da mentalidade judaica, da qual Paulo fazia parte, o amor não era pensado de uma maneira abstrata, tal como hoje a maioria de nós pensamos. Antes, o amor no texto bíblico é sempre um ato na direção do meu próximo, visando o seu bem. Nesse sentido, todo e qualquer amor demanda, na perspectiva bíblica, alguma concretude, algo que o texto de 1 João deixa muito claro, ao afirmar que: “Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4:20).

Amar demanda coragem e perseverança daquele e daquela que ama, sendo, portanto, um caminho que é construído com tempo e disposição, assim como todas as relações humanas. Nesse sentido, amar não pode ser entendido como um sentimento, mas como uma escolha que deve ser feita diariamente.

Quando afirmamos que Deus é amor também dizemos isso. Que Ele, em sua infinita misericórdia, persevera, tendo também coragem de se entregar numa relação que demanda uma resposta daquele/a à quem se entrega. Tal perseverança se mostra em atos de bondade e generosidade para conosco.

Se Deus é assim, como seus filhos e filhas também é esperado que façamos o mesmo, ou seja, que amemos como ele nos ama. Em outras palavras, é esperado de nós coragem e perseverança para amarmos ao nosso próximo. Em especial, e talvez, mais difícil, àqueles e àquelas que convivem conosco no dia a dia, estando mais próximos de nós.

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