Ele é o Senhor e dá a vida
Ele é o Senhor e fonte de vida. Essa frase, presente no credo cristão, fala a respeito do Espírito. O Cristianismo, que seguiu ao longo de vários séculos tentando expressar a sua fé, durante muito tempo, não abordou de forma consistente essa pessoa da Trindade. A extrema preocupação em se tentar justificar a salvação por meio de Cristo, explicar como se daria a relação entre Jesus e Deus, como ele poderia ser homem e Deus ao mesmo tempo, dentre outras, tomou grande parte dos esforços dos primeiros cristãos, sendo as discussões a respeito do Espírito, muitas vezes, deixadas de lado.
Para se ter uma ideia, até o ano de 381, o Cristianismo não havia elaborado um credo de maneira mais aprofundada sobre a pessoa do Espírito. No Credo de Niceia, em 325, a única menção a ele está na frase: “Creio em Espírito Santo”. Em Constantinopla, em 381, naquele que ficou conhecido como Credo Niceno-constantinopolitano, foi onde apareceu uma elaboração mais precisa a respeito daquele que o Cristianismo entendia como o Espírito Santo.
Após um novo período de esquecimento do Espírito que se deu, principalmente, ao longo da Idade Moderna, em tempos atuais, a questão do Espírito voltou, principalmente, influenciada pelos movimentos de avivamentos motivados pela Reforma Protestante e, mais recentemente, em termos históricos, com os movimentos pentecostais que nasceram em solo americano. Com o envio de diversos missionários para diversos países, dentre eles todos da América Latina, esse movimento se tornou grande, sendo hoje um dos maiores movimentos evangélicos existentes.
Do lado católico, desde a década de 50 se vê crescendo o movimento carismático, grande responsável por reacender a questão do Espírito nesse meio e, atualmente, em solo brasileiro, seguindo numa linha muito semelhante aos diversos movimentos pentecostais evangélicos, de maneira que diferenciar uma celebração carismática de um culto pentecostal, muitas vezes, torna-se possível somente no momento eucarístico ou devido a algumas vestimentas que alguns padres ainda usam para se identificarem como tal.
No entanto, faz-se interessante perceber que mesmo que haja um reacender para a pessoa do Espírito, uma de suas características principais, que é a de ser o gerador da vida, bem como as consequências que essa afirmação traz, se mostram, muitas vezes, esquecidas. É comum que esses movimentos pentecostais e carismáticos adotem uma postura fechada em relação a tudo aquilo que vai contra certa catequese pré-estabelecida, crendo que com isso estão sendo fieis com a mensagem cristã. Ao fazer isso, porém, desconsidera-se toda a possibilidade que o Espírito, por ser gerador de vida, é capaz de realizar em solos que, muitas vezes não se dão nada por eles.
Todo/a aquele/a que já teve a experiência de plantar um feijão no algodão para observar como ele cresce lembrar-se-á de que cada semente crescia de uma forma diferente e de que a marca do algodão que era comprada não interferia no crescimento da plantinha. Esse se dava de maneira natural, gerando algo que lhe é próprio e o indicativo de que o processo estava certo era que ali estava a geração de uma nova vida. Tome esses diversos tipos de algodão como diversas religiões, por exemplo, e será possível perceber a imensa possibilidade que se abre para o diálogo inter-religioso a partir da perspectiva pneumatológica.
Diversos movimentos dentro de Cristianismo, ao longo da história, tentaram e ainda tentam colocar a ação do Espírito dentro de uma caixa, afirmando que ele só pode agir de determinada forma, estando preso a um credo ou a uma determinada doutrina, sem a qual ele não saberia como se portar. No entanto, o Espírito, como entendido pelo Cristianismo, é aquele que, como vento, sopra onde quer e da forma como quer, não estando preso a nada e a ninguém. Antes, soprando, dá aquilo que lhe é próprio, i.e, a própria vida.
Dessa forma, se o Espírito é aquele que dá a vida, então ali onde ela é afirmada em todas as suas formas, ali se faz presente o Espírito de Deus, o que tem como consequência que, tudo aquilo que gera morte não pode vir desse mesmo Espírito.
Diante disso, os diversos movimentos que se dizem cristãos e pregam a morte das minorias, daqueles que não pertencem ao seu credo religioso, dos flagelados, dos que não possuem terra e dos marginalizados pela sociedade não podem estar sob a ação desse Espírito que, como afirma o credo cristão, é aquele que dá a vida. Compreender de maneira cristã essa característica do Espírito se mostra, então, fundamental para uma atitude cristã na sociedade atual e diversa na qual vivemos.