Um Cristianismo com medo do diferente

Um Cristianismo com medo do diferente

É muito comum entre os cristãos o medo a respeito do diferente. Isso pode ser percebido também ao longo da história do Cristianismo, em que as mudanças sempre foram vistas com grande desconfiança e também com grande embate. Se lembrarmos, por exemplo, dos casos de Giordano Bruno e Galileu, que foram obrigados a abrir mão de suas teses de que a Terra girava em torno do sol, a fim de evitar a fogueira por se dizer algo que ia contra aquilo que a Igreja definia como verdade, ou ainda se lembrarmos de que no início do século XX o Magistério lançou um documento condenando o Modernismo com suas novas teorias a respeito do mundo, tais como a evolução etc, esses nos dão uma pista para dizer que, ainda hoje, são vários os cristãos e cristãs que têm medo das mudanças. Talvez, pelo medo de se perder o chão onde se sabe andar. Afinal, estar aberto a posturas diferentes e estar aberto a mudanças são um sinal de humildade e de se reconhecer como alguém que também está no caminho para descobrir o certo e o errado nesse mundo.
Que isso seja percebido ao longo da história com as questões da ciência parece-nos claro. As resistências às novas descobertas, tentando demonizá-las por irem “contra a Palavra de Deus” são comuns no que tange aos avanços científicos para explicação da vida humana e do Universo. No que tange às questões próprias da religião, como por exemplo, o diálogo inter-religioso, essa resistência se mostra, talvez, ainda maior, visto que toca em pontos da fé e da relação com Deus, bem como no conhecimento aprendido ao longo de muito tempo dentro de determinada comunidade de fé. Essa resistência se manifesta, muito comumente, na postura de não escuta, ou seja, adota-se a ideia de que a outra religião não tem nada a nos ensinar enquanto cristãos e cristãs. Muito pelo contrário, somente nós que podemos ensinar para elas o verdadeiro caminho e a verdade última acerca do mundo e de sua razão de ser. Dessa forma, assume-se uma postura de superioridade com relação a essas outras religiões. Afinal, se somente o Cristianismo deve ensinar e nunca ser ensinado, pressupõe-se com isso de que seja o ápice do conhecimento religioso que alguém pode chegar e, por isso, seu papel é de ser somente docente e nunca discente.
Essa postura, no entanto, vai contra o próprio princípio da humildade, tão cara dentro do ambiente cristão e que demanda de cada um/a sua aplicação no dia a dia da vida, reconhecendo-se como não detentor da verdade e aberto para aprender com os/as que pensam diferente de nós. Assim, cabe-nos perguntar se não esconderia a postura de superioridade certo medo com relação ao diferente assim como o era com relação às ciências em tempos passados (e, para alguns, ainda hoje esse medo continua).
Contudo, uma postura de fechamento e de medo do diferente em nada se coaduna com a proposta do Evangelho que tem como mensagem, justamente, que Deus é amor e, como amor, é abertura ao outro e ao diferente, disposto a entrar nesse mundo para mostrar que ainda se importa com ele. Em outras palavras, o Evangelho diz que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo. Dessa forma, abrir-se ao outro com humildade e disposto a aprender com ele é um dos primeiros reflexos de um discurso que passou por um encontro com o Evangelho e que compreendeu que se abrir ao diferente e ao outro não tem a ver com negociação de identidade, nem o deve ser feito com intuito proselitista. Antes, o relacionamento com os outros saberes, principalmente com as outras religiões deve ser de respeito e visando um mútuo aprendizado, de maneira que possamos nos tornar cristãos melhores e, ao mesmo tempo, ajudar ao outro que pertence à outra religião, também se tornar um praticante melhor de sua própria religião.

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