Por que falar de diálogo inter-religioso hoje?
Por que pensar o diálogo inter-religioso hoje? Essa pergunta, que pode parecer um tanto quanto descabida para alguns, para outros parece que faz todo o sentido, uma vez que não são poucos aqueles e aquelas que consideram a sua própria religião como a única verdadeira e a única digna de crédito. O fato de se pensar que a tarefa do encontro entre as religiões é o proselitismo mútuo ainda se faz muito presente na mentalidade de grande parte da população cristã do nosso país.
Uma vez, porém, sabendo que a proposta de diálogo não tem esse fim, estando mesmo longe de tal intento, pode levar ao questionamento com o qual começamos o texto. Afinal, se o que está em jogo não é saber quem está certo e quem está errado, pra que então dialogar? Pra que gastar tempo com esse tipo de coisa, sendo que há tantas outras importantes a fazer no campo político, econômico etc.?
No entanto, é justamente por se pensar que a questão religiosa está totalmente desassociada das questões políticas e econômicas que não se percebem as constantes influências que o modo de pensar ancorado em uma religião, em muitos momentos, determina a forma que certa política econômica ou social será ou não adotada. Nesse sentido, as religiões, principalmente as grandes religiões mundiais, possuem ainda um grande poder de influência sobre a maneira como o mundo é conduzido, uma vez que diversas visões de superioridade ou discursos sobre a “destruição do inimigo” que pensa e age diferente são ancoradas em uma visão de Deus e um discurso religioso que a sustenta. Diante disso, é possível perceber que as religiões não estão à parte do processo político e econômico mundial, antes seus líderes se mostram como agentes, muitas vezes, de peso quando se tratam desses tipos de assuntos.
Uma vez percebido isso, nos parece que vai se descortinando uma das npossíveis respostas para a questão com a qual começamos nosso texto. O diálogo inter-religioso hoje se mostra como tarefa necessária para a promoção tanto da paz como também de sistemas de governos mais humanos. Aquilo que Jürgen Moltmann, teólogo alemão, chama de diálogo inter-religioso indireto, ou seja, aquele cuja principal preocupação não é as de cunho dogmático-conceitual, antes, uma preocupação que se volta para o esforço comum para resolver as ameaças que assolam a vida no Planeta, se mostra de grande ajuda, uma vez que permite ver as religiões não somente como sistemas que buscam a explicação das perguntas fundamentais da humanidade, mas também como agentes responsáveis para a promoção e manutenção da vida por meio de ações justas, humanas, conscientes e ecológicas.
Nesse sentido, o diálogo inter-religioso pode ajudar na depuração das visões de mundo divergentes, promovendo uma dinâmica de interação que as fazem pensar a si mesmas dentro de um conjunto maior e como corresponsáveis na educação de humanos mais preocupados com políticas que promovam regimes mais justos e menos desiguais do que os que possuímos atualmente.
Para isso, porém, é necessária a disposição para ouvir a outra religião que se coloca no diálogo, bem como abrir mão da pretensão de ser a sistematização da verdade última a respeito de Deus.
Há ainda um longo caminho a seguir, mas não podemos jamais pensar que religião, política e economia não se misturam, uma vez que isso somente fortalece o uso das religiões para controle e dominação dos mais fracos por parte daqueles que detém o poder.