Como sempre, elas nos ensinam o caminho.
O texto bíblico, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento fala de mulheres que foram importantes para o desenvolvimento do Judaísmo e do Cristianismo. Qualquer leitor atento se lembrará das menções a Rute, Raabe, Ester, Débora, Maria, Febe, e tantas outras que se espalham ao longo das narrativas bíblicas. Porém, durante muito tempo, a própria Igreja relegou o papel da mulher a uma mera questão de submissão. Que os textos foram escritos por homens, isso já dá uma pista bem grande de qual seria a tônica a respeito do papel da mulher nessas narrativas, porém, o fato de grande parte da igreja ser comandada durante mais de 19 séculos somente por homens (a igreja católica ainda permanece dessa forma no século 21) fez questão de, ao longo da história, colocar a mulher em um papel de subserviência à questão masculina.
Somente em séculos recentes, após a revolução feminina que esse papel começou a ser revisto de maneira mais contundente. Nesse cenário, nasce a teologia feminista, motivada em fazer uma leitura do texto bíblico que segue na contramão da leitura feita por um viés patriarcal, trazendo novos ares na pesquisa exegética e teológica, mostrando que, muito do que se diz da mulher não faz parte dos ensinamentos bíblicos, sendo antes, artimanhas masculinas para se manter no poder. Ao colocar a mulher em segundo plano, como se isto fosse uma posição instituída por Deus, os homens, ao longo dos séculos, quiseram se afirmar como superiores às mulheres, o que, graças a Deus e ao trabalho de inúmeras mulheres, tem sido alterado.
No Ocidente é muito comum que as mulheres contemporâneas não se considerem mais inferiores aos homens. Embora no meio cristão isso ainda seja muito pregado, bastando ir a qualquer igreja católica, ou evangélica para ouvir coisas do tipo: “a mulher tem que obedecer ao marido”, ou ainda: “o papel do homem é de ser o provedor e o da mulher de ser cuidadora da casa”, ou, mais textual ainda: “porque assim como Cristo é o cabeça da Igreja, o homem é a cabeça da mulher”, texto esse, totalmente fora do contexto, usado como pretexto para afirmar que a mulher é inferior ao homem. Isso, todavia, tem mudado e as mulheres têm, a cada dia, afirmado o seu lugar de igualdade para com os homens. Os movimentos feministas, a conscientização, o acesso à educação e novas formas de ver o mundo cooperam grandemente para que essa desigualdade, a cada dia, diminua. Ainda estamos longe do fim do machismo estrutural que rege nossa sociedade ocidental, mas grandes vitórias já foram conquistadas e muitas ainda estão por vir.
Nesse cenário, é de grande valia e digno de grande reconhecimento, as manifestações organizadas pelas mulheres contra o fascismo, que ocorreram no último sábado, em que milhões de pessoas foram às ruas para afirmar que a democracia é mais importante e valor inegociável dentro da sociedade brasileira.
As mulheres, como sempre, nessa atitude, ensinam aos homens como se deve fazer para se organizarem na luta em favor da justiça e em favor do que é correto. Essa organização, que a cada dia se torna mais forte, deve ser vista como sopro do Espírito que gera liberdade e autonomia por onde passa, rompendo as cadeias da ignorância e trazendo uma nova vida onde antes imperava a morte.
Nesse sentido, lutemos pelas causas feministas, juntamente com elas e, como homens, paremos de achar que devemos ensinar às mulheres como lutar no mundo, uma vez que, como ninguém, elas demonstram saber melhor do que nós.