Relembrar e repensar a Igreja: uma tarefa para nosso tempo
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A Igreja nasce por obra do Espírito Santo. Essa característica fundacional é muito bem enfatizada no livro dos Atos dos Apóstolos, em seus primeiros capítulos. Em sequência, há diversas narrativas que mostram como que aqueles e aquelas que creram e receberam o Espírito testemunhavam a respeito da ressurreição, vivendo em comunidade, tendo tudo em comum.
De início, tal movimento ficou conhecido como sendo a seita dos nazarenos, ou ainda os seguidores do Caminho, visto que grande parte dos novos adeptos eram da religião judaica. Dessa forma, em seu início, cristianismo e judaísmo não eram duas religiões diferentes. Tal divisão se acentuará somente após a queda de Jerusalém no ano 70, com a permanência de dois grupos: os cristãos e os fariseus. Estes deram origem ao que veio a se tornar o judaísmo atual, enquanto aqueles desenvolveram sua própria teologia, separando-se cada vez mais do movimento judaico.
A Igreja enquanto instituição já é algo mais tardio, não fazendo parte desse primeiro movimento de Atos, que consistia nas reuniões nas casas, na partilha do pão, no suprimento das necessidades de cada pessoa pertencente à comunidade. A institucionalização da Igreja e, posteriormente, a transformação da religião cristã em religião oficial do Império Romano trazem grandes mudanças na forma como ela própria se vê no mundo.
São conhecidas de todos e todas as grandes atrocidades cometidas pela Igreja cristã ao longo de vários séculos, principalmente na Idade Média, época conhecida também como cristandade no Ocidente. Ou seja, as matrizes social e cultural na qual todas as pessoas nasciam eram cristãs, de maneira que ser cristão era praticamente como, em nossos dias, ser pertencente à nação onde se nasce.
Diante disso, dada sua grande hegemonia e seu grande poder, a Igreja, com o passar do tempo, transformou-se naquilo que ela mesma combatia. Em outras palavras, de oprimida passou a ser a opressora. Agora, porém, com um discurso de que se estava fazendo a vontade de Deus, mesmo que para isso tivesse que torturar e matar pessoas em nome de uma suposta obediência à divindade.
Tempos mais tarde, ao perder sua hegemonia, parte da Igreja cristã passou, então, a ser contra diversos avanços na pesquisa científica, querendo, assim, manter de alguma forma o poder que havia tido nos séculos anteriores. Dessa forma, se colocar contra uma nova forma de exegese e hermenêutica, ou se levantar contra as novas descobertas científicas, tais como a teoria evolucionista de Darwin, ou novas leituras da sociedade, como a de Marx, aparentam ser fruto dessa tentativa se colocar como o baluarte e a única detentora da verdade última.
Se focarmos no lado protestante, a história não se mostra tão diferente assim. Desde a Reforma, as instituições perseguiram e continuam a perseguir aqueles e aquelas que pensam de forma diferente do poderio vigente. Talvez, a maior diferença seja uma não centralização do protestantismo mundial, o que possibilita novas formas de organização e comunidades, promovendo, assim, maior liberdade doutrinal, tanto para o bem quanto para o mal.
A Igreja católica com o Vaticano II propõe uma nova forma de se pensar a Igreja e, mesmo que isso tenha ocorrido há mais de 50 anos, tal proposta ainda não está totalmente assimilada, existindo diversos grupos que se colocam contra o Concílio e seus documentos.
Relembrar a história da Igreja, seu surgimento, o motivo de sua existência e, ainda, repensá-la em nossos dias se tornam tarefas fundamentais para que ela possa ser um testemunho atual da mensagem de Cristo.
A Igreja deve viver o amor de Deus, sendo reflexo da Trindade no mundo. Em outras palavras, uma comunidade que ama, onde todos e todas são acolhidas e se alegram por estarem ali, em comunhão uns com os outros.