História: lugar da revelação de Deus

História: lugar da revelação de Deus

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Disse ainda: “Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó” (Êxodo 3,6a).

 

Esse versículo se encontra no conhecido texto sobre a sarça ardente, quando Moisés recebe o chamado para ser o libertador do povo de Israel da terra do Egito. Essa denominação, por sua vez, será muito recorrente ao longo de todo texto bíblico e será uma das principais maneiras pela qual o povo de Israel falará a respeito de Deus.

Tal caracterização da divindade se mostra muito interessante, uma vez que agora o Deus deste povo, Israel, não é visto como uma divindade distante, mas uma divindade que se implica na história e, mais ainda, é conhecida pelos seus atos feitos na história do seu povo.

Se nós compararmos tal discurso a respeito de Deus com, por exemplo, os discursos feitos sobre os deuses gregos, perceberemos uma grande diferença. Enquanto esses vivem em um mundo próprio, o Olimpo, onde têm suas festas, seus conflitos etc, vindo à Terra somente para alguma aventura, ou interferindo das alturas nas ações dos seres humanos, o Deus apresentado nas páginas do texto bíblico se revela em outra perspectiva, como alguém que, vendo o sofrimento do seu povo, decide se importar com ele e caminhar ao seu lado.

Nessa perspectiva, a história não é vista como somente uma grande peça de teatro escrita para ser observada por entes divinos, ou como um seriado interativo, no qual é possível fazer as decisões que determinada personagem tomará, influenciando, assim, o enredo final da série. Muito pelo contrário, o próprio Deus se implica nessa história, fazendo dela também a sua própria, criando em si um espaço para que ela ocorra. Em outras palavras, como nos diz Moltmann, a história acontece no próprio Deus.

Essa compreensão de um Deus que caminha com seu povo e se faz presente na história, no entanto, parece que não faz tanto sucesso hoje em dia em diversos ambientes que se dizem cristãos. Em tais ambientes, o que comumente se escuta é a respeito de um Deus que vive no céu, cercado de miríades e miríades de anjos, sendo constantemente adorado e distribuindo bençãos ou maldições, de acordo com o que o departamento de Contabilidade Celestial lhe informa nos balancetes mensais.

Prega-se um Deus que não se importa com o sofrimento humano, que não se implica neles, que não sofre, não chora, não ri. Em outras palavras, um Deus impassível, incapaz de sentir algo, porque, como diriam os gregos, tal sentir causaria alterações na divindade que, por excelência, se quiser ser perfeita, não pode sofrer nenhuma alteração.

No entanto, ao se fazer isso, tais igrejas não pregam o Deus anunciado no texto bíblico: um Deus que sofre e caminha com seu povo, estando atento ao seu sofrimento, padecendo, por amor e reconciliando toda a criação Consigo mesmo.

Esse Deus, desde as páginas do Antigo Testamento é aquele que ouve o clamor dos que sofrem por causa de líderes cruéis, que sabe o quanto tais pessoas sofrem e, por isso, vem em auxílio delas.

A igreja atual precisa resgatar o anúncio desse Deus que se implica na história, que é contra a injustiça, que sofre com os que sofrem, que, em Jesus, se mostra como aquele que é contrário a toda forma de violência e toda forma de exploração.

A luta por justiça, igualdade social, ausência de discriminação deve ser também a causa de toda pessoa que se diz cristã. Do contrário, ao invés de sermos luzes no mundo, deixaremos ainda mais densa a escuridão que insiste em avançar sobre ele.

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