A necessidade de cursos de teologia em instituições públicas
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Nestes últimos dias, mais uma vez, ficou-se sabendo de outro escândalo envolvendo pastores evangélicos. Trata-se da pasta do Ministério da Educação, em que pastores ligados ao Ministro cobravam propina para intermediar verbas para escolas de diversos municípios. Nessas tratativas, como mostram diversas reportagens, também se pedia que se comprassem 1000 bíblias, no valor de R$50,00 cada, o que daria R$50.000,00 a mais por essa intermediação.
Que tal caso seja bizarro e vergonhoso para a comunidade evangélica, não se tem dúvidas. Considerar-se como pedágio para o uso de verba pública, fruto de impostos pagos pelos/as cidadãos/as do município, é um acinte. Contudo, mais uma vez, tal situação revela algo muito importante, que aparentemente, tem-se deixado de lado durante muito tempo, a saber, a urgência de cursos de teologias em universidades públicas no país.
Já há algum tempo, tenho insistido em diversos textos neste portal sobre essa temática. A questão religiosa é um fator importante para a sociedade brasileira. Por mais que diversos discursos acadêmicos tentem a todo custo reduzir a teologia a mera questão confessional, as consequências de se deixar tais cursos somente em instituições eclesiásticas tem se mostrado como um grande problema para a sociedade.
Parte desse problema é que nas faculdades eclesiais, em sua maioria, o que se tem são líderes eclesiásticos (pastores, pastoras, padres, bispos etc.) como aqueles e aquelas responsáveis pelo ensino. Nas mais cuidadosas, há a exigência de que o corpo docente tenha uma formação adequada, com mestrado e doutorado. Em outras, principalmente evangélicas, em muitos casos nem isso é exigido, uma vez que a hora de um/a docente doutor/a é mais cara para a faculdade, o que implica ter somente o mínimo necessário para manutenção do curso junto ao Ministério da Educação (MEC). Sem contar aquelas que não são nem reconhecidas pelo MEC, geralmente evangélicas, e que servem como seminários doutrinais, nos quais a doutrina de determinado segmento é ensinada aos futuros/as pastores/as e líderes dessas denominações.
Uma vez que o ensino teológico formal fica restrito somente a esses meios eclesiásticos, o que se tem muitas vezes é um ensino pouco diversificado, com uma visão restrita da diversidade religiosa presente no país e, não raras as vezes, formadora de panelinhas de ensino, em que somente amigos e amigas dos líderes recebem a oportunidade de ensinar alguma disciplina. Tal ensino, por sua vez, sendo vigiado para que não se fale nada que não seja de acordo com “a sã doutrina” de determinado segmento.
Juntamente com isso, tem-se o alto custo para estudar teologia no país. Uma vez que todos esses cursos são em faculdades privadas, na maioria das vezes, um curso presencial se torna inviável de ser feito pelas pessoas comuns. Acrescenta-se a isso a ausência de mercado de trabalho e se tem sempre o mesmo clube no ensino teológico do país.
A ausência de uma teologia pública aliada ao fortíssimo sentimento religioso existente no Brasil se mostra, assim, como prato cheio para líderes inescrupulosos e manipuladores, que usam o discurso da fé para enganar seus fiéis, controlar o estado e fazer com que o país avance para uma teocracia, o que por si só é extremamente perigoso.
Fomentar o ensino de teologia nas universidades públicas se torna urgente, se não queremos que cada vez mais setores fundamentalistas cristãos se infiltrem nos ambientes de tomada de poder e transformem o país em um outro esquema de amigos e amigas do líder.