Os quatro âmbitos da consciência no pensamento de Bernard Lonergan

Os quatro âmbitos da consciência no pensamento de Bernard Lonergan

Photo by Donald Giannatti on Unsplash


Bernard Lonergan (1904-1984) foi um teólogo jesuíta canadense que possui uma reflexão interessantíssima tanto para a filosofia como para a teologia contemporânea. Neste pequeno texto, gostaria de apresentar os quatro âmbitos da consciência definidos por ele, a saber, o âmbito do senso comum, o da teoria, o da interioridade e o da transcendência.

Segundo Lonergan, o âmbito do senso comum é o mundo do dia a dia, algo que muda de cultura a cultura. Podemos dizer que o senso comum são todas as maneiras de relacionar as coisas a nós, sendo definido pelo mundo da experiência. Para ficar mais claro, basta imaginarmos o mundo de uma criança recém-nascida onde tudo que existe é aquilo que se pode experimentar, totalmente apreendido por meio dos sentidos.

O segundo âmbito é o da teoria. Este começa a surgir quando começamos a fazer algumas perguntas que o senso comum não consegue responder. Perguntas do tipo: “o que é isso?”, “por que tal coisa é dessa forma?”, por exemplo, são próprias do âmbito da teoria no pensamento de Lonergan.

Nesse campo procuramos as relações entre as coisas e não ficamos baseados somente nos dados que recebemos de nossas experiências cotidianas. Um bom exemplo que podemos citar é o de Sócrates quando ele perguntava sobre as definições das coisas.  Ao se perguntar: “o que é a justiça?”, ou “o que define um homem bom?” etc., Sócrates coloca perguntas que fogem ao nível do senso comum e necessitam de uma explicação em nível teórico. Essa diferenciação da consciência entre teoria e senso comum, de acordo com Lonergan, é algo que deve ser feito pelo ser humano.

O terceiro âmbito é o âmbito da interioridade. Este começa a surgir quando as perguntas depois da teoria nos fazem voltar para dentro dos nossos processos cognitivos. Não é mais suficiente procurar a relação da coisa em si, mas como se conhece essas relações. Nesse ponto, não se presta atenção aos objetos em si somente pelos olhos da teoria, mas também se passa a prestar atenção no sujeito que a conhece. Dessa forma, após o momento teorético, refletindo, deve-se procurar algo que une o senso comum à teoria, partindo para o nível da interioridade.

Uma boa exemplificação seria imaginar um mundo bidimensional em que seus habitantes conseguem ver somente coisas em duas dimensões. O habitante que atinge o nível da interioridade seria semelhante a uma formiga que vive em um mundo tridimensional e consegue ver todos os movimentos que ocorrem sobre o mundo bidimensional. Se tomarmos tal exemplo, segundo Lonergan, essa simples formiga teria uma visão muito melhor desse mundo do que todos os habitantes do mundo bidimensional.

O quarto âmbito proposto por Lonergan é o âmbito da transcendência. Nele não é possível se chegar naturalmente, sendo necessário que tal transcendência venha primeiramente a nós. Quando isso acontece, quando a consciência interiorizada entra em contato com o mundo da transcendência, ela começa a mudar a sua forma de viver. Esse âmbito, para Lonergan, é o âmbito em que estamos próximos de Deus.

Conhecer o pensamento de Lonergan é instigante e, sem dúvida, sua filosofia e teologia podem contribuir muito para a compreensão do mundo em que vivemos. Se essas pequenas e superficiais indicações servirem para aguçar o interesse para a leitura desse pensador, esse texto terá cumprido o seu objetivo.

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