Um mundo de propostas
Vivemos em um mundo de propostas. Propostas de emprego, de compra, de venda, de relacionamentos, religiosas, dentre tantas outras que poderiam ser citadas. Toda proposta traz em si algo em que o proponente acredita ser bom para ser difundido e, obviamente, que o motiva a tentar convencer outras pessoas de que aquilo que oferece é realmente a melhor oportunidade que alguém poderia ter.
Esse tipo de situação acontece de maneira muito clara no comércio. Quem nunca se sentiu tentado ou tentada a comprar determinado produto porque o/a vendedor/a era tão bom em seus argumentos e mostrava o produto de tal maneira que o fazia parecer necessário para nós?
Em tempos contemporâneos, foi o marketing que se tornou uma das ferramentas fundamentais na criação de necessidades, exemplo disso são as empresas que gastam grandes somas de dinheiro em campanhas publicitárias na tentativa de se mostrar como a melhor opção em determinado segmento. Mais ainda, em nossos dias, o marketing digital ocupa lugar de destaque, sendo para muitas pessoas o carro chefe de seus negócios. Basta olharmos os/as influencers de plataformas como Instagram, TikTok e Kwai que têm toda sua renda baseada na divulgação de si mesmos, que no final, é o “produto” que tais pessoas têm a oferecer para os/as consumidores/as dessas plataformas.
Essa força do marketing e da propaganda também se percebe saindo da esfera do comércio, afetando a vida política de diversas nações. Em especial no Brasil, as redes sociais e esse marketing digital são constantemente utilizados para a divulgação de fake News, discursos de ódio, teorias da conspiração, incentivo a manifestações contra o regime democrático etc.
Recentemente, após a perda da eleição, os/as apoiadores/as de Bolsonaro, em atos antidemocráticos que exigiam o fechamento do STF e intervenção militar, demonstraram o quão facilmente alguém pode ser levado a acreditar naquilo que se deseja ouvir. Uma busca rápida na Internet mostra as diversas “notícias” feitas sobre prisão de ministro, relatórios que apontavam fraudes nas urnas, dentre tantas outras bizarrices que se analisadas com o mínimo de critério se poderia perceber que não passavam de mentiras espalhadas no intuito de insuflar a população em sua histeria.
As igrejas evangélicas não ficaram de fora disso. Diversos “profetas” profetizaram a vitória de Bolsonaro e determinaram sua vitória, revelando-se, portanto, como mentirosos e não dignos de confiança. Da mesma forma, várias pessoas que estavam nos atos antidemocráticos estavam orando pela nação, como se Deus fosse alguém que atendesse orações egoístas e ensimesmadas, porque determinado grupo não gostou do resultado de uma eleição.
Todos esses casos servem como exemplo do poder que tem determinada proposta quando insuflada por um bom marketing. Sem falar que tais propostas podem ser bastante rentáveis para as pessoas e instituições que as anunciam. Um exemplo disso são igrejas evangélicas que fazem propostas de uma teologia da prosperidade com um bom marketing e seus líderes ganham rios de dinheiro às custas de pessoas humildes e que precisam de um refrigério.
Qual a função da teologia nisso? Além de denunciar tais práticas, mostrar que a proposta de Jesus é diferente: no lugar da inimizade, entra a reconciliação; no lugar das fake News, entra a verdade dos fatos; no lugar da violência, entra a solidariedade; no lugar “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, a proposta de um Reino de amigos e amigas em que ninguém é melhor do que ninguém; no lugar das profetadas, a profecia séria que denuncia a opressão do pobre e dos que não têm parte na terra.
Função difícil? Sem dúvida, mas extremamente necessária como o foi ao longo de toda história de uma teologia séria.