Feliz Dia do Professor: será?

Feliz Dia do Professor: será?

Foto de: CPERS/Fotos Públicas


Na semana passada foi comemorado o Dia do Professor e da Professora. Diversas mensagens foram mandadas, posts feitos, stories compartilhados, falando sobre a importância dos/as docentes na vida de seus respectivos alunos e alunas etc., como todos os anos acontecem nessa data.

Ironicamente, diversas dessas mensagens vieram de pessoas que ao longo dos anos não fizeram muita questão de valorizar a causa dos/as professores/as espalhados pelo país. Muito pelo contrário, são pessoas que acreditam que toda greve de professor é coisa de vagabundo, que essa categoria só trabalha quatro horas por dia e ainda fica querendo aumento, que pensa que há doutrinação nas escolas e, por causa disso, são apoiadores das diversas leis de mordaça que tentam se impor em diversas cidades brasileiras, dentre tantas outras bizarrices que se ouve ao longo de vários anos, e exacerbadas com o atual governo.

Tais pessoas que desejam feliz Dia do Professor e ao mesmo tempo têm esse tipo de discurso, na maioria das vezes se mostram como hipócritas, que falam somente porque todo mundo está falando, ou porque é de “bom tom” dar parabéns pelo dia de determinada profissão. Em outras palavras, não compreendem o papel dos professores e professoras para a construção da sociedade.

Da mesma forma, quando olhamos para as políticas públicas de incentivo à educação e à pesquisa, percebemos o grande abismo em que estamos nos últimos anos, desde o governo Temer e o Congresso daquele período, que congelou durante 20 anos os gastos federais em várias esferas. Mais recentemente, a pedido do Ministério da Economia, 600 milhões foram retirados do Ministério da Ciência, o que compromete fortemente o incentivo a pesquisas de pós-graduação stricto sensu no país, com ausência de bolsas de estudo, investimento em infraestrutura, publicações etc.

Quando olhamos para situação de pandemia em que estamos, também é possível perceber o descaso para com os/as docentes que, em diversos lugares, foram obrigados a voltarem às salas de aula sem condições adequadas para sua não contaminação, causando a morte de diversos desses/as profissionais.

Esses pequenos exemplos mostram o quanto a não valorização da docência tem se tornado sistêmica, fazendo parte de um projeto político de enfraquecimento de uma educação pública e de qualidade, que consequentemente gera cidadãos/ãs menos conscientes de seu papel na transformação do status quo.

O que a teologia cristã tem a ver com isso? Tudo. Afinal, partindo do exemplo de Jesus, toda pessoa que se diz cristã deve lutar para que a sociedade seja mais justa, que haja igualdade social, autonomia das pessoas, uma vida digna para todos e todas. A educação, obviamente, entra nesse bojo, visto não haver sociedade justa sem um processo educacional que liberte o sujeito. Tal educação, por sua vez, só é possível com investimento público que garanta um corpo docente motivado, valorizado e com um salário, segurança e estrutura que tragam dignidade e condições para exercer bem o seu trabalho.

Dessa forma, desejar feliz Dia do Professor e apoiar um governo que destrói sistematicamente a educação é mera hipocrisia. Se for esse o caso, melhor que se fique calado.

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