Um caminho difícil de seguir

Um caminho difícil de seguir

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Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. João 13:34

Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos perseguem. Mateus 5:44

Embora esses dois versículos sejam amplamente conhecidos e anunciados em diversos cultos e missas, muitas vezes não se dá real atenção às dificuldades que estão inseridas nessas simples palavras. Num primeiro momento, alguém poderia pensar: o primeiro versículo é até aceitável, uma vez que Jesus está falando isso com seus discípulos, agora, o segundo traz algo que não sabemos muito bem como lidar.

No entanto, enganam-se aqueles e aquelas que consideram o primeiro versículo como até fácil de ser cumprido e o segundo como impossível. Na realidade, ambos os mandamentos de Jesus demandam um comprometimento enorme da parte de quem se propõe a segui-los e, ainda, tais versículos se colocam como critérios de compreensão do próprio evangelho.

Quanto ao primeiro versículo, ainda que se considere que Jesus esteja falando somente para seus discípulos, instando-os a terem uma vida em amor fraterno entre si, por ser a forma pela qual o mundo reconhecerá quem são seus seguidores e seguidoras, precisamos ter em mente que amar pessoas de quem gostamos já é um desafio enorme e exige muito de nós. Afinal, aceitar a diferença do outro (que não raras vezes são contrárias às nossas expectativas), incentivá-lo a ser uma pessoa melhor, estar junto em seus percalços, chorar suas dores e alegrar-se com suas alegrias, ou ainda de maneira sintética, procurar com todas as forças e dentro do possível fazer o bem para a outra pessoa não são tarefas simples e, nem sempre prazerosas e leves.

Não raras vezes queremos desistir das pessoas, ou até mesmo sermos indiferentes para com elas porque não as suportamos e, infelizmente, é comum não termos sempre atitudes amorosas para com aqueles e aquelas de quem gostamos e queremos bem.

Quanto ao segundo versículo, é comum ouvir que nesse caso Jesus tenha forçado a barra demais. Afinal, se já é difícil amar a quem se gosta, quem dirá amar a quem nos faz o mal, ou nos odeia. Se isso soa espantoso para nós hoje, imagina para quem vivia à época de Jesus, no qual a lei de talião, que afirmava o “olho por olho e dente por dente”, era uma regra básica da sociedade, vista como garantidora da honra de uma determinada família ou determinado clã e, até mesmo, reflexo do próprio Deus, uma vez que este retribuiria o mal feito com algum castigo e o bem feito com alguma benesse.

Jesus, porém, revela outra imagem de Deus, a saber, aquele que ama sempre, que não faz distinção de pessoas, que não retribui o mal com o mal, que faz vir a chuva sobre justos e injustos, de maneira que qualquer prerrogativa de meritocracia deveria ser descartada na relação com esse Deus que é Pai de todos e todas. Nesse sentido, se Deus é aquele que oferece seu amor sempre, até mesmo para com aqueles e aquelas que eram considerados pelo povo como seus inimigos, da mesma forma Jesus ordena que nós também amemos aos que nos perseguem e se mostram como nossos inimigos.

Com isso em mente, é possível perceber o quão rigorosa é a moralidade exigida por Jesus. Bem distante de um mero cumprimento de ordenanças que garantiria a justiça e o agradar a Deus, o que se coloca é o imperativo do amor àqueles e àquelas de quem gostamos e também de quem não gostamos (uma vez que gostar de alguém é sempre opcional; amar, no entanto, para o ser cristão, é um mandamento),

Por sua vez, tal mandamento, paradoxalmente, só pode ser realizado quando feito de maneira livre e gratuita, uma vez que todo amor pressupõe a liberdade.

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