Um Deus apaixonado pela liberdade

Um Deus apaixonado pela liberdade

A vida cristã é uma vida de liberdade. Essa frase, embora comentada por muitas pessoas e falada constantemente nem sempre é percebida na vida de várias comunidades cristãs espalhadas no país e no mundo. É comum encontrarmos pessoas que se dizem seguidoras de Jesus e que em suas práticas se mostram aversas a qualquer tipo de liberdade. No lugar, preferem colocar os modos de conduta e os dogmas, como se esses fossem mais importantes que as pessoas em si.
Esse movimento contra a liberdade, por se acreditar que “se der liberdade demais a coisa desanda”, infelizmente tem se espalhado por diversas denominações cristãs. Que isso seja fruto de uma possível ausência de referência, típica das sociedades contemporâneas, não é algo que deva ser descartado. Muito pelo contrário, a história nos mostra que são em momentos de crises e de pontos de inflexão na sociedade que há um crescente de movimentos de regras estritas e adeptos a posturas mais fundamentalistas e, algumas vezes, extremistas.
A característica marcante nesses movimentos reacionários é justamente um confronto à liberdade. No lugar dela, entram as famosas listas de “pode e não pode” desejadas por uma divindade em algum momento eterno e, por isso mesmo, não passíveis de serem mudadas. Em outras palavras, para esses movimentos a liberdade é substituída por um princípio de ordem que deve ser obedecida, visto que onde há liberdade demais o povo fica incontrolável.
Porém, ao fazerem isso, seguem na contramão do próprio princípio do Evangelho que, como sempre falado, é o amor. Uma vez que todo amor pressupõe a liberdade, todo movimento que visa o rompimento com ela, também não pode ser um movimento que se baseia no amor cristão e, consequentemente, não pode ser considerado como tal.
O Deus bíblico, Aquele a quem Jesus chamou de Pai, sempre foi um amante da liberdade. Jürgen Moltmann, grande teólogo reformado contemporâneo, mostra que o conhecimento pelo povo de Israel em sua primeira experiência com Deus, é feita a partir da libertação dada por Ele. Deus é experimentado como o libertador, como o promotor de liberdade para com seu povo. A mesma ideia está presente nos Evangelhos quando mostram Jesus como o libertador do seu povo, ou seja, assim como Deus liberta o seu povo da escravidão do Egito, assim Jesus é aquele que liberta o seu povo da escravidão da morte.
Diante disso, não há um Evangelho que não passe pela liberdade, devendo ela ser celebrada, festejada e proclamada em todas as vezes que ocorrer o anúncio da obra redentora de Cristo nos dias de hoje. Da mesma forma, lutar pela liberdade dos que são escravizados, dos que sofrem torturas, dos que estão presos sob sistemas de injustiças, sendo, portanto, injustiçados, mostra-se como tarefa cristã da qual não é possível se esquivar, caso se queira fazer uma teologia séria.
A liberdade, contudo, afronta os detentores do poder, seja eclesiástico, político ou econômico. Este último, principalmente em sua via ultraliberal, disfarçado como amante da liberdade, prega que tal liberdade deve ser devida somente a quem tem poder financeiro para bancá-la, sendo, portanto, restrita a somente alguns. No entanto, toda liberdade que não visa ser universal não pode ser considerada cristã, devendo ser nominada com seu verdadeiro nome que é ideologia de manutenção do status quo.
A liberdade cristã, que se baseia na vida de Jesus como mostrada pelos Evangelhos, é devida a todos e todas porque todos e todas são filhos e filhas do mesmo Pai não havendo qualquer privilégio para qualquer grupo que seja.
Assumir a liberdade cristã, assim, é também lutar por igualdade social e por justiça por reconhecer que não há como ter liberdade para todas as pessoas se não há justiça, bem como não há como ter justiça sem igualdade social e, consequentemente, não há como ter liberdade sem que ambas as questões estejam resolvidas.
Com isso em mente, dizer-se seguidor ou seguidora de Jesus e ao mesmo tempo ver toda liberdade não dogmática como risco, abstendo-se de se posicionar contra a injustiça e a desigualdade é não ter compreendido a proposta do Evangelho.

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