Diálogos e jornada
Um dos pilares da sociedade contemporânea, pelo menos em seu discurso ocidental, é o diálogo com o intuito de propor soluções para problemas que afligem determinado grupo ou sociedade. Nesse diálogo estaria o pressuposto de que cada uma das partes ali representadas fosse capaz de colocar seus argumentos de maneira clara para serem debatidos e questionados uns pelos outros para, no final, sair com uma resposta conciliada para a resolução da questão proposta.
Que isso seja um valor para a sociedade do Ocidente, não podemos negar. Os diversos filmes, contos, novelas, livros, discursos sempre ressaltam esse ponto e vê nessa categoria dialogal a melhor forma de trabalhar questões complexas. Ao mesmo tempo, tem-se como valor que, num diálogo, todos e todas que dele participam são vistos/as como iguais e, por isso, são também dignos/as de falar e serem ouvidos, tendo sua posição respeitada e considerada.
O Deus bíblico, tanto no Antigo Testamento, como no Novo Testamento sempre se mostrou como Deus que é aberto ao diálogo e a ouvir argumentos contrários. Os casos de Abraão e Moisés, que dialogando com Deus expuseram suas posições divergentes e foram ouvidos são bem conhecidos. Outros, talvez nem tão conhecidos assim, são: o chamado que o próprio Deus faz ao povo de Israel, na voz do seu profeta Isaías, ao dizer: “vinde e arrazoemos, diz o Senhor” (Is 1,18), ou ainda a pergunta de Deus para o povo de Israel, também manifestada na voz do profeta Miqueias: “Meu povo, que foi que eu fiz contra você? Fui muito exigente? Responda-me” (Mq 6,3).
No Novo Testamento é ainda mais visível o caráter dialogal de Deus, na pessoa de Jesus, que sempre perguntava a opinião de seus discípulos e interlocutores a respeito de diversas questões cotidianas. Seus debates com os fariseus e mestres da lei, narrados constantemente no evangelho de João, mostram a disposição de Jesus para, por meio de argumentos, mostrar aquilo que Deus exigia de seu povo. Ao longo da narrativa bíblica, Jesus nunca se esquivou de um debate, nunca fugiu a uma conversa a respeito das questões de seu tempo.
O Cristianismo, ao falar hoje do tema da Trindade, também tem em mente o caráter dialogal que há no próprio Deus. Deus é dialógico, relacional, comunicativo, disposto a ouvir e a falar. Neste sentido, ao longo de toda tradição bíblica e cristã, Deus se mostra como alguém aberto e disposto a ouvir posições diferentes a respeito das temáticas que surgem. Assim, podemos pressupor que ele também deseja que nós tenhamos a mesma atitude e disposição que ele tem para o diálogo.
Com isso em mente, todo aquele e toda aquela que se diz cristão e cristã deve ter uma atitude de abertura para ouvir pensamentos e posições que lhes são divergentes. Ao fazer isso, segue o exemplo de Cristo que sempre esteve disposto a dar atenção a toda pessoa que chegava até ele. Uma pessoa que se diz cristã e ao mesmo tempo foge ao debate e ao diálogo para soluções de questões que impactam a vida da sociedade deve ser vista com cautela, uma vez que, fazendo isso, não está seguindo o exemplo de Cristo que, como mostra o texto bíblico, nunca recusou conversar e debater com seus pares.
Tendo em mente tudo isso e essa categoria dialogal, o grupo de pesquisa Teologia e Diversidade Afetivo-sexual fará, em outubro deste ano, a I Jornada Teologia & Diversidade Afetivo-Sexual, com o tema: Cenários da diversidade sexual: Diálogos transversais.
Este evento “quer ser um espaço de diálogo entre a Teologia e outros saberes ao redor da complexa temática da diversidade sexual e de gênero. O interesse se dá por causa das mudanças socioculturais e do debate crescente do assunto e sobre o qual a Teologia deve também refletir. Por isso, o aporte de outras áreas, tais como o Direito, a Filosofia, Psicologia e Sociologia, são importantes para a fecunda interlocução e enriquecimentos mútuos”.
As inscrições para participação como ouvinte estão abertas até 22/10/2018. Mais informações em no site do evento