Encontro com Deus

Encontro com Deus

Um dos discursos que mais se ouve no meio cristão, especialmente evangélico, é a respeito do encontro com Deus. Há algum tempo (e em alguns lugares ainda hoje), existiram os chamados “Encontros”, em que a proposta era fazer com que certo grupo de pessoas fosse para determinado sítio ou pousada e passassem um tempo lá, em silêncio e participando de diversos momentos de adoração, oração, palestra etc, para no final de três dias poder dizer que teve um encontro com Deus que havia transformado sua maneira de ser.
Que esse tipo de postura seja comum no Cristianismo isso não é de se espantar e não há nada de novo nesse tipo de evento. Ao longo da história cristã foram diversas as pessoas que decidiram abandonar o contato com o mundo para se dedicar à oração e reflexão e, mesmo nas outras religiões, essa prática ascética, ora monástica, ora eremita ainda se mostra bem comum.
O grande problema acontece quando esse chamado encontro não altera em nada o modo de viver daquele que participou de determinado evento. Nesse sentido, aquilo que era para ser um encontro com Deus se mostra mais como momento catártico e de alívio pessoal que dá força e motivação para seguir adiante. Dizemos isso porque, ao observarmos o texto bíblico, é possível perceber que toda narração que fala a respeito do encontro que se realiza com Deus, aquele/a que o encontra tem sempre o seu modo de ser e de viver no mundo totalmente transformado, de maneira que é facilmente identificado o momento antes do encontro e o momento depois do encontro com Deus.
Exemplos disso são achados tanto no Antigo Testamento quanto no Novo e ainda na história da própria Igreja. Basta observarmos as experiências de Gideão, Isaías e Moisés, assim como as experiências de Paulo e dos apóstolos no Novo Testamento, e ainda as experiências de São Francisco, Lutero, Agostinho, dentre tantos outros que, a partir do encontro com Deus, tiveram suas vidas totalmente transformadas e suas ações totalmente norteadas por esse evento.
Diante desse critério fica relativamente simples identificar se o discurso de encontro com Deus se trata de um real encontro ou de somente um momento catártico promovido por alguma pessoa com o dom da retórica e técnicas psicológicas. Na proposta cristã, o encontro com Deus é sempre transformador e é sempre uma nova forma de enxergar o mundo. Essa nova forma passa, necessariamente, pelo olhar aos menos favorecidos e àqueles/as que tiveram o seu direito tirado, assim como Jesus fez durante seu tempo na Galileia do século I.
Que todo amor a Deus somente seja provado pelo amor que se demonstra ao próximo, disso nos deixa ciente a primeira carta de João ao dizer que se dissermos que amamos a Deus a quem não vemos e, porém, não amamos a nosso irmão a quem vemos somos mentirosos. Utilizando esse mesmo critério, podemos dizer também que todo/a aquele/a que diz que teve um encontro com Deus e não se tornou uma pessoa que se importa com os/as diversos/as excluídos/as desse mundo é também um/a mentiroso/a.
O encontro com Deus implica o encontro com o próximo, a fim de levar vida e libertação ali onde há escravidão e morte. Sem isso, todo discurso de encontro com Deus não passará de um mero discurso.

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