Um evangelho que precisa de penduricalhos.

Um evangelho que precisa de penduricalhos.

Não é difícil se ouvir no meio evangélico a reclamação de que os cultos são sem graça, de que não há nada de atrativo nas reuniões e de que a igreja precisa fazer algo para atrair pessoas para dentro dela.  Essa questão trazida principalmente pelos mais jovens revela, muitas vezes, uma realidade. A fim de resolver isso, é comum ver duas formas de ação nessas igrejas.
A primeira aparece com grande frequência nas comunidades evangélicas que não se preocupam em trazer uma mensagem de uma maneira que faça sentido para as pessoas que entram nelas. Essas igrejas, por meio de sua liderança, lançam um emaranhado de regras rígidas sobre os membros, convencendo-os de que, fazendo isso, estão fazendo a vontade de Deus e tentando alcançar a “santidade diante do mundo mal”, tornando-se, assim, testemunhas, pregadores e missionários para a expansão do Reino de Deus.
A segunda forma de lidar com a reclamação dessas pessoas é tentar conquistá-las pelo entretenimento e pelos inúmeros eventos, cheios de música, luzes e efeitos que, juntamente com uma mensagem motivacional, servem como movimentos catárticos para que elas possam, novamente, se sentirem fortalecidas e com vigor para encarar uma nova semana de luta.
Atualmente, é comum percebermos, principalmente nos meios evangélicos, um crescente de pessoas utilizando essa segunda forma para falar de questões da Bíblia e das situações da Igreja. Basta uma busca simples e se encontrará inúmeros canais de humor evangélico, falando a respeito do dia a dia de uma igreja, ou pastores fazendo pregações que mais parecem shows de stand up, divertindo os membros e, como resultado disso, sendo chamados para participarem de diversos programas televisivos por terem uma maneira cool de falar sobre algumas questões bíblicas.
Da mesma forma, são diversos os cantores e cantoras gospel que, fazendo shows imensos, atraem multidões para os chamados “cultos” em estádios, jornadas de evangelização, gravações de CDs e DVDs. Esses shows, como o próprio nome diz, são produções caras, com cachês bem altos para os pop stars gospel e com altas doses de “animação na presença de Deus”.
Diante disso, faz-se interessante pensar até que ponto essas maneiras cooperam para um verdadeiro entendimento do Evangelho e para uma vida de compromisso real com a proposta cristã. Paulo, quando falava a respeito das suas experiências com Deus, relata certo espinho na carne dado pelo próprio Deus para que ele não se ensoberbecesse por causa das visões que havia visto. Ao pedir que o espinho fosse retirado, a resposta divina é “Minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.
Considerando essa resposta, e diante da situação atual do movimento evangélico, é tarefa do Cristianismo se perguntar até que ponto o Evangelho, por si só, tem sido suficiente para manter as pessoas compromissadas com sua causa e com seu Mestre.
Ao Evangelho é preciso adicionar, quase que diariamente, o humor, os espetáculos e as palavras motivacionais para manter os seus membros dentro das igrejas. Do contrário, essas pessoas sairão e encontrarão outra mais “legal” que a anterior. Em outras palavras, é comum, hoje, vermos um evangelho cheio de penduricalhos.
Contudo, um evangelho pregado dessa forma traz como consequências os crentes pouco fundamentados e rasos nas questões de fé. Em outras palavras, permanecem como crianças e nunca chegam à fase adulta, onde questionam, reveem as posturas, e se posicionam, de maneira realmente cristã, frente às questões tanto da igreja, quanto da sociedade em que estão inseridos.
Nesse cenário, não é de se espantar o porquê da grande dificuldade que diversos setores do movimento evangélico, têm em dialogar sobre questões importantes da sociedade, mantendo-se fechado em posições ultrapassadas, emocionais e tradicionalistas, tais como a bancada evangélica que existe no país.

Se atualmente o movimento cristão precisa desses penduricalhos para manter seus membros, é urgente que ele se questione até que ponto o verdadeiro Evangelho tem sido pregado e até que ponto as igrejas e comunidades tem sido um lugar onde ele pode ser encontrado por meio das pessoas que ali se encontram.

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