Quem ouviu a nossa pregação?
Ao longo de sua história, a teologia sempre teve uma voz ativa no meio da sociedade. Seja no tempo dos Profetas no Antigo Testamento que por meio de suas vozes exigiam a justiça e o governo justo por parte dos governantes, seja por meio dos primeiros cristãos que, mesmo sendo pouco numerosos, insistiam em lutar contra a dominação imperial que oprimia e gerava morte, pregando, no lugar o Reino de Deus e a Nova Criação de todas as coisas.
Com a conversão de Constantino, porém, o cenário muda completamente e o Cristianismo passa a ser, então, a maior voz no mundo Ocidental o que, como é sabido, juntamente com alguns avanços, trouxe também inúmeras atrocidades.
Essa situação muda com o advento da Modernidade. A partir daí, a razão é que passa a ser a nova voz no mundo do Ociendente. Com isso, principalmente nos países que serviram de colônias de exploração, como no caso brasileiro, a esfera teológica é deixada de lado, como que se preocupando somente com as questões sacramentais e da vida religiosa.
Assim, para a maioria da população, há um mundo religioso, que é conhecido e estudado pelos padres, pastores e teólogos e um mundo secular em que se deve prestar atenção na economia, ciência, administração, saúde, educação etc.
Esses dois mundos, na cabeça de muitos, não chega a ser nem intercambiável, sendo até mesmo estranho para alguns pensar que um padre entenda de questões econômicas ou que um teólogo esteja envolvido nas questões concernentes à saúde da população. Diante disso, a voz da teologia se vê, muitas vezes, colocada de lado por parte dos setores da sociedade, seja por causa desse tipo de visão que perdura a muito tempo, seja porque a própria teologia, por meio de seus teólogos e teólogas, não consegue propor um discurso e um ensinamento que faça sentido para o povo do qual ela faz parte.
Claramente, a primeira constatação só pode ser mudada a partir da mudança da segunda. Para que essa mudança na forma de ver a teologia ocorra, faz-se necessário que aqueles que se dedicam a estudá-la e fazê-la se preocupe não somente na forma como falar, mas também na maneira como as realidades da fé é compreendida pela comunidade.
De nada adianta toda a carga simbólica que o Cristianismo insiste em passar para os cristãos em seus diversos rituais se aqueles para o qual ela é direcionada não o compreende, mas o vê simplesmente como algo necessário para se obter alguma espécie de salvação da condenação eterna.
Se a teologia cristã deseja ser uma voz ouvida em tempos atuais nos assuntos do cotidiano da sociedade e ser uma voz que tem algo a dizer e que, ao mesmo tempo, seja demandada pelos diversos setores da população em que está inserida, é imprescindível que ela avance nas diversas ressignificações de suas verdades, discursos e símbolos.
Essas ressignificações, longe de ser uma negociação dos princípios, fundamentos, valores e verdades da fé cristã, têm como intuito dizer o que se crê de uma maneira nova, numa linguagem atual e que faça sentido para os povos de hoje.
Sem dúvida, essa tarefa implica uma teologia que esteja em contato com as realidades sociais e junto daqueles que sofrem. Em outras palavras, somente uma teologia empática com a esfera pública é capaz de brotar e florescer nesse meio.
A pergunta que fica é: estariam os teólogos de nosso país dispostos a tal empreendimento?