É a sua indiferença que me mata: a indiferença como risco para o diálogo

É a sua indiferença que me mata: a indiferença como risco para o diálogo

No texto anterior, se falou a respeito de um diálogo pautado por questões estereotípicas, ou seja, quando o diálogo é proposto já se tendo uma forma definida e pré-concebida de se pensar a respeito da religião alheia. Embora essa seja uma forma muito comum quando se trata de diálogo inter-religioso, é importante também que se reflita a respeito do diálogo que parte pelo lado oposto à dessa visão estereotipada, ou seja, a partir da indiferença.
A atitude indiferente também se faz presente no diálogo inter-religioso e, juntamente com um diálogo que parte da estereotipia, aquele que parte da indiferença causa um mal extremo para um Cristianismo preocupado com dialogar com as outras religiões.
A indiferença tem como uma de suas definições o descaso e a ausência de interesse, o que não a torna muito difícil de ser reconhecida por meio das atitudes das pessoas em relação às diversas situações da vida. No que se refere ao diálogo inter-religioso, é possível perceber duas formas em que essa indiferença se manifesta: a primeira, de maneira mais visível, é o descaso com as outras religiões. Nessa, a postura de não ouvi-las não se baseia na intolerância em relação a elas, antes, por acreditar que elas não tem nada a dizer de bom e não há nada que se possa aprender com elas. Nesse sentido, o diálogo é totalmente descartado e o que sobra são somente uns falando de um lado e outros falando do outro, cada um a seu grupo distinto, sem se preocupar com qualquer tipo de convivência, senão aquelas de caráter meramente social. Nesse sentido, aplica-se a política do não incômodo, ou seja, pode-se fazer o que quiser, desde que não atrapalhe aqueles que estão do lado de cá.
A segunda forma da indiferença manifesta-se na postura relativística em relação à religião alheia. Nesse sentido, o discurso passa a ser que todas as religiões pregam a mesma coisa e que todas estão, no final, falando a respeito do mesmo Deus. Essa ideia, que, dentro da teologia do diálogo inter-religioso, é chamada de pluralista, observada atentamente, reflete ao mesmo tempo, como propõe Moltmann, tanto uma postura imperialista, no sentido de que parte do pressuposto de uma definição prévia de um fundamento válido para o diálogo, o que já coloca as “religiões do livro” em grandes vantagens, como também uma postura de indiferentismo, ao propor que as religiões abram mão dos seus discursos a respeito da verdade, tornando-se, assim, um grande restaurante self service, em que o cliente pega aquilo que o agrada. Nesse sentido, a busca pela verdade das coisas não se torna mais um critério para o diálogo, antes, esse ocorre somente para ouvir as diversas posturas diferentes a respeito dos diversos assuntos do campo religioso e da sociedade.
No campo teológico do Cristianismo, o perigo de um diálogo inter-religioso pautado pela visão pluralista está justamente na possível suspensão do diálogo que essa postura pode causar. Uma vez que todas as posições são válidas, cada religião deve viver em seu canto, sem se importar com aquilo que está acontecendo nas outras. Assim, no intuito de incluir todas, na verdade o que se faz, é isolá-las mais ainda, impedindo tanto o diálogo como a comunhão entre elas.
Como consequência, o diálogo inter-religioso que poderia ser extremamente proveitoso para propor transformações efetivas na sociedade frente às diversas catástrofes que tem acontecido em nosso planeta, tende a se tornar cada vez mais distante e, ao mesmo tempo, mais excludente.

Assim, o Cristianismo, caso queira seguir os passos de seu Mestre deve insistir em um diálogo que leva em conta as diferenças de cada religião sem cair em uma atitude de indiferença, seja pela via do descaso, seja pela via da relatividade de uma teologia pluralista.

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