Extremismos: possível incubadora dos salvadores e salvadoras

Extremismos: possível incubadora dos salvadores e salvadoras

Em nosso texto da semana passada, tratamos a respeito do risco de se apostar em salvadores e salvadoras das nações quando estas estão em momentos de crises. Porém, juntamente com esse risco, também é possível identificar outro em momentos de instabilidade política. Esse outro risco tem a ver com os extremismos.
Tempos de crises costumam ser também tempos de extremismos. Se olharmos nossa situação brasileira atual, percebermos isso de forma latente, ainda que não desembocando em uma guerra civil como aconteceu e acontece em outros países.
O extremista, assim como os pretensos salvadores e salvadoras dos quais falamos semana passada, também tem o olhar de julgamento voltado para o outro. Para o extremista, é sempre o outro que é culpado e é sempre aquele que pensa diferente que precisa ser eliminado.
Se atentarmos ao nosso país nesse momento percebemos dois tipos de extremismos. Tanto o que acontece pela chamada “direita” quanto aquele que é insuflado pela chamada “esquerda”. De início, acredito que a maioria dos leitores desse texto, concordarão que “direita” e “esquerda” são termos ultrapassados para se falar em posição econômico-política na atualidade, uma vez que o escopo das interrelações entre economia e políticas se tornaram extremamente complexas dentro de um mundo globalizado.
De toda forma, ainda que muitos saibam, os termos continuam sendo usados para se definir pessoas que tem projeto de nações diferentes. Se fosse somente isso, tudo bem. A democracia precisa desse embate entre pensamentos diferentes para progredir. É saudável que haja pessoas de direita e de esquerda em uma nação que se julga democrática.
Contudo, devido ao momento de crise que vivemos, afloram-se não os ideais democráticos, antes os ideais totalitários. Isso não vem somente por parte da “direita”, antes também vem pelo lado da “esquerda”. Não é difícil vermos pessoas dos dois lados brigando e querendo a morte daqueles que não estão do mesmo lado que eles. Os discursos extremistas de ódio tem sido fomentado nos dois lados e isso é muito perigoso, uma vez que somente dá forças àqueles salvadores e salvadoras dos quais falamos semana passada. Nesse sentido, nos tornamos, ao mesmo tempo, incubadora de salvadores e salvadoras, e também o monstro que dizemos combater.
Ao colocarmos a culpa somente no outro e não nos reconhecermos também como culpados pela situação que nosso país está, seja por nosso conluio, seja por nossa omissão, perdermos a grande oportunidade de tentar, de alguma forma, mudanças estruturais sérias em nossa nação.
Assumir nossa responsabilidade diante do caos que estamos vivendo é o primeiro passo para que possamos propor caminhos para mudança da estrutura de nosso país. As acusações aos que usam camisa diferentes somente leva ao fortalecimento da classe política que, atualmente, acaba com o país e com o futuro de muitos e muitas.
Somente unindo forças é que é possível vencer os que são mais poderosos que nós, uma vez que a história nos mostra que a organização em torno de um objetivo comum é o primeiro passo para o alcance desse objetivo.
Porém, para isso, é necessário um olhar humilde e interessado em relação ao que pensa diferente daquilo que eu penso. Humilde porque posso perceber que o meu modo de ver o mundo não está tão certo como imaginava que estava. Interessado porque somente com um coração disposto a ouvir é que podemos tentar caminhar junto com quem é diferente de nós.
Diante disso, talvez o nosso maior desafio na atualidade seja voltar ao princípio democrático do diálogo em torno de objetivos comuns, tais como um país mais justo e livre da corrupção política e ética em que estamos inseridos. Somente assim, unindo-se aos que buscam a mesma coisa, mesmo que por vias diferentes, enquanto país, será possível vencer o caos no qual estamos atualmente.
A questão é que, muitas vezes, por não reconhecermos nossa responsabilidade, nos deixamos cegar pelos movimentos extremistas que são implacáveis em seus discursos, sejam de direita, sejam de esquerda.

Que, unidos, abramos nossos olhos e lutemos por dias melhores.

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