Será que o melhor a fazer é lavar as minhas mãos?

Será que o melhor a fazer é lavar as minhas mãos?

Na cidade que vivo, Belo Horizonte, estamos em um incrível dilema com a situação das eleições para prefeito. Escolher entre um candidato que se autodeclara “não político” e com inúmeros processos na justiça e um outro candidato que representa um dos partidos com a agenda mais neo-liberal do país que, se possível, privatizaria até o próprio partido, se é que já não fez isso. Juntamente com esse dilema, ainda há, por parte da população, uma grande apatia com relação ao meio político.
 Diante dos últimos acontecimentos na nossa democracia, não são poucos os que consideram inútil a questão do voto, bem como considera que a política é o lugar de ladrões e inescrupulosos. Com esse pano de fundo nada agradável, gostaria de pontuar três coisas nesse momento difícil de nossa cidade.
Em primeiro lugar é que a política, desde os gregos, remete àquilo que tem a ver com a polis, ou seja, todo aquele que era cidadão da polis deveria, de alguma forma, fazer e viver essa política, uma vez que ela afetaria diretamente a própria vida da sociedade onde aquele cidadão estava morando. Sendo assim, é impossível não sermos políticos.
Precisamos fazer política o tempo todo, seja no trabalho, seja na faculdade, seja onde for. Se não o fizermos não conseguimos nem mesmo viver em sociedade. Como dizia Aristóteles, o homem é um animal político, ou seja, nele está uma tendência para a construção da própria polisque, segundo Aristóteles, seria a mais perfeita das comunidades. Isso, sem dúvida, é algo que precisamos ter em mente se vivemos em uma sociedade. Dessa forma, se colocar como apolítico seria, de alguma forma, negar a própria condição de ser social que, obviamente está implicada na questão política de Aristóteles.
O segundo ponto que acho importante ressaltar é que a postura “apolítica” também remete à própria questão da responsabilidade. Ao tomarmos o discurso “não votarei em nenhum dos dois porque não concordo com nenhum dos dois”, não fazemos outra coisa senão nos eximirmos da nossa responsabilidade de escolher quem será o nosso próximo prefeito. A atitude é a mesma de Pilatos que, como vários devem conhecer a história, diante da condenação de Jesus, senta-se em sua cadeira e lava suas mãos, como se dizendo “não sou culpado disso que vai acontecer com esse homem”. Eximir-se da responsabilidade como “protesto” contra o sistema, infelizmente, não trará uma mudança no sistema e nem, muito menos, impedirá que sejamos governados por alguém que seja ruim.
A terceira e última coisa que considero importante é que, se chegamos no ponto de somente termos candidatos ruins indo para a decisão das eleições, isso reflete o quanto precisamos voltar a exercer nosso papel de cidadãos e nos vermos como o responsável pela nossa cidade e nosso país como todo.
A situação nos conclama que voltemos a ser os animais políticos que visam construir uma cidade melhor visando o bem da própria sociedade.
Em diversas capitais do país houve mais votos nulos e brancos do que aqueles que elegeram os candidatos vencedores. Isso revela tanto o problema da representatividade quanto o problema da responsabilidade, do qual falei no segundo ponto, bem como a necessidade da luta por uma reforma eleitoral séria e popular.
Assim, não seria a saída para esse impasse assumirmos nossa postura de cidadãos e nos responsabilizarmos de que, se só existem dois candidatos ruins disputando é porque eu, enquanto cidadão que deveria lutar pelo melhor da minha cidade não estou dando a mínima para o que acontece, sendo portanto, indiferente em exercer meu papel como alguém que se preocupa com a minha cidade?
Diante de tudo isso, convido a pensar em seu voto e não se eximir de votar em alguém. Não assumamos a postura de Pilatos diante de uma decisão que nos afetará, diretamente, nos próximos 4 anos.
Reflitamos que se temos representantes ruins e políticos corruptos em sua maioria é porque deixamos de ver a nossa cidade e o nosso país como nosso. Passamos a ver aquilo que é de todos como aquilo que é de ninguém. E, se é de ninguém, por que se importar?
Cada povo tem o governo que merece, já dizia um antigo dito popular.
Façamos por onde merecer um governo melhor. Isso começa por nossa postura e reflete em nossos critérios para eleger nossos representantes.

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