Jesus Parou
setembro 21 2016
Fabrício Veliq
De início, esse versículo pode uma parecer mera introdução, como quando começamos determinada história com um “era uma vez”, ou “estava um dia claro”, etc. No entanto, se voltamos ao capítulo 12 do livro de Mateus percebemos o que houve naquele dia e, pelo texto, notamos que não foi um dia light na vida de Jesus.
No capítulo 12, Mateus narra que naquele dia de sábado Jesus teve uma discussão com os fariseus devido aos seus discípulos colherem espigas no dia de descanso do povo de Israel, depois disso partiu para a sinagoga e curou um homem que tinha a mão ressequida, questionando os fariseus, que também estavam presentes, se era lícito ou não curar em dia de sábado, o que levou esses a planejarem sua morte. Sabendo disso, saiu da sinagoga e, como várias pessoas o acompanhavam, curou a todos que precisavam e apareciam no seu caminho; passado algum tempo, no mesmo dia, foi trazido a ele um homem endemoninhado o qual também curou, causando outra discussão com os fariseus para, a seguir, também entrarem os escribas pedindo um sinal dos céus para que se convencessem de que ele era o Cristo que haveria de vir; por fim, recusou a visita dos familiares, alegando que sua verdadeira família é aquela que faz a vontade de seu Pai que está nos céus. Pelo que podemos notar, foi um dia bem atarefado para Jesus, segundo o evangelista.
O que me chama a atenção nisso é que Jesus, diante desse dia tão estressado, saiu de casa e sentou-se à beira do mar. No versículo de Mateus 13 não fala quanto tempo ele ficou assentado até a multidão chegar; se foi um tempo grande, ou pequeno, nem se fazia alguma coisa enquanto estava assentado. Gosto de imaginar que ele estava observando as ondas e, possivelmente alguns barcos de pesca da região.
Para mim, esse simples versículo nos traz dois grandes ensinamentos: um a respeito da pessoa de Jesus, outro sobre uma maneira de encarar a vida. Com relação à primeira, penso que esse versículo nos faz perceber a humanidade de Jesus como um homem como qualquer outro que, depois de um período estressante, se senta de frente ao mar para observá-lo e, talvez, pensar sobre as questões do dia, refletir sobre suas ações e espairecer a mente o que, sem dúvida, é muito distante da imagem não cristã, imaginada por muitos cristãos, de que Jesus era um ser incansável, que vivia de luz e era uma máquina de fazer milagres, sempre sabendo de tudo que ocorreria em sua vida. Muito pelo contrário, esse versículo nos chama a atenção para o fato de que não havia nada de diferente de nós na pessoa de Jesus. Dessa forma, a humanidade de Jesus nos revela a humanidade de Deus. E se for assim, então podemos crer em um Deus que se alegra e chora conosco, um Deus que é nosso companheiro no dia a dia de caminhada, que nos entende e se faz presente e que sofre juntamente conosco aquilo que sofremos, da mesma forma que se alegra conosco naquilo em que nos alegramos.
O segundo ponto que acredito que esse versículo nos traz é que, às vezes, na caminhada, é necessário que paremos e observemos as coisas simples da vida e reflitamos sobre elas. Sabemos que é comum, no mundo corrido que temos hoje em dia, não tirarmos um tempo para parar e pensar sobre o que fazemos e o porquê fazemos o que fazemos. Isso não é algo que acontece somente no mundo do trabalho e no mundo secular que vivemos, mas frequentemente também nos meios eclesiais. Não dificilmente vemos pessoas engajadas em seus ministérios vivendo vidas completamente estressadas, sem parar nenhum minuto sob a alegação de que há muito para se fazer para a obra. Dessa forma, no afã de produzir algo, devido, às vezes, às próprias cobranças de líderes que também não entenderam a questão do descanso como momento de encontro com Deus, diversas pessoas perdem o entusiasmo da vida e a capacidade de se admirar com as coisas simples ao seu redor.
Com isso em mente, penso que esse simples versículo nos chama para uma postura em relação à vida que é o de reconhecer que não há nada de errado em parar de vez em quando, sendo até mesmo necessário, para que se possa continuar a fazer aquilo que se estava fazendo.
Foi o que aconteceu com Jesus. Na sequência do versículo, as pessoas chegaram e ele continuou o resto do dia a ensiná-las.
Dessa forma, seguir os passos de Jesus também quer dizer estar atento aos momentos em que se deve parar.