A culpa como mantenedora da exploração no trabalho

A culpa como mantenedora da exploração no trabalho

A maioria das pessoas, de alguma forma, se relaciona com seu trabalho. 
Acredito ser algo próprio de nós nos relacionarmos com aquilo que fazemos. Essa relação pode ser conflituosa, amigável, penosa, dentre outros adjetivos que poderíamos listar infinitamente.
Contudo, um dos aspectos que me chama a atenção é a relação alienante em relação ao trabalho. 
Marx já falava sobre isso em um passado não tão distante em termos históricos e não quero repetir todo a análise marxista a respeito da alienação frente ao capitalismo, até mesmo porque ficaria extremamente grande toda essa análise em um texto de blog.
Porém, ancorado nessa belíssima análise, gostaria de falar um pouco sobre esse aspecto alienante que percebemos em diversas pessoas em sua relação com o trabalho. 
A alienação é essa cessão de direito a um outro. Por exemplo, quando compramos um carro em um financiamento de Leasing, o carro fica alienado ao banco que concedeu o financiamento, ou seja, os direitos sobre o carro, mesmo sendo você que o dirige, pertence ao banco que é seu proprietário, uma vez que você, ao financiar com ele, cedeu seu direito de posse para esse banco. Toda vez que cedo meu direito a um outro, de certa forma, estou em um processo de alienação. 
Da mesma forma, podemos pensar a relação do trabalhador com o trabalho. Esse, ao se render ao capital, aliena-se a ele uma vez que agora não é mais o detentor daquilo que produz. 
Falando assim fica parecendo que o processo é extremamente tosco e perceptível a qualquer um que olha. No entanto, esse talvez seja um dos processos mais sorrateiros instituídos pelo sistema do capital. Essa cessão de direitos se dá de forma tão discreta que, na maioria das vezes, as pessoas não o percebem. 
Mas como isso se dá? 
Penso que uma das cartas mais ferozes que o sistema regido pelo capital tem é o da culpa que esse impõe àqueles que dele dependem. Esse tipo de relação é claramente perceptível nas empresas privadas. 
Essas fazem com que o funcionário se sinta culpado por não conseguir cumprir a meta exploratória estabelecida sob pressão por parte dos detentores do capital e ainda impõem o medo a esse funcionário de ser taxado como mau, ou não conseguir a carta de recomendação para uma nova oportunidade, ou a promoção, ou a demissão, ou o que quer que seja. Esse medo de sentir culpado se reflete nas inúmeras horas extras, nos estresses, na perda da saúde do funcionário e tantos outros males que acometem, impressionantemente, somente ao funcionário e não ao detentor do capital.
Dessa forma, o funcionário se vê enredado em um mundo em que não se quer estar, sem conseguir refletir sobre o processo em que se está inserido (uma vez que a pressão, os prazos, o dia-a-dia não permite essa parada para refletir), nem sair por não ser capaz de perceber que sua relação com o trabalho pode ser de outra forma do que a esta que está submetido.
Sutilmente, esse funcionário se alienou e sentirá culpado com qualquer atitude revolucionária que o coloque novamente como chefe de sua vida.
A culpa se torna assim uma forte aliada para o capital no processo de alienação, uma vez que impõe ao trabalhador a ideia de que todo ato de subversão deve ser visto como mau e contrário a ordem e ao certo. Quando a tudo isso ainda se traz o discurso de que essa é a vontade de Deus para esse trabalhador, temos o cenário perfeito para a continuação da alienação e exploração.
Pensemos
Fabrício Veliq
23.01.2015 – 07:07

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