Creio! E isso implica em muita coisa
Hoje fui supreendido com uma notícia interessante: fui avisado que fui excluído da igreja que frequento há 23 anos. O motivo da exclusão, segundo o relato de quem me disse, era que estava infrequente na mesma. Como a igreja estava com dificuldade para ter quórum em suas assembléias, acharam por bem excluir os membros que estavam infrequentes e dessa forma meu nome entrou no meio. Como não fui informado a respeito dessa decisão, acho que somente saberia disso quando fosse em alguma assembléia e o diácono falasse: “você não pode votar, você foi excluído há algum tempo”
Como penso que devemos sempre refletir sobre aquilo que chega até nós, comecei a refletir sobre esse evento. A questão da exclusão por frequência traz boas reflexões.
Em primeiro lugar, é interessante perceber a enorme lacuna que existe entre o discurso institucional que se chama igreja e o discurso de Jesus que sintetiza a igreja.
Percebemos que a primeira vez que a palavra igreja surge na bíblia é na confissão de Pedro acerca de Jesus em Mateus 16:18. Esse texto é interessante, pois a igreja surge pela pergunta de Jesus sobre quem ele é. Podemos, sem um abuso do texto, dizer que falar a respeito da igreja, é falar da identidade de Jesus. Dessa forma, a igreja deveria ser um espelho de Jesus na Terra, ou seja, deveria ter uma atitude concernente àquilo que Jesus disse e fez.
No entanto, o que percebemos hoje em dia é que a instituição que se apropria com o nome de igreja, em sua maioria, tem agido de uma forma empresarial, visando lucro e crescimento de seus negócios. Não raro percebemos na mídia essas coisas e qualquer frequentador das igrejas atual avaliando um pouco a estrutura organizacional perceberá esse enfoque de empresa que tem sido construído.
Dessa forma, a exclusão de um membro não choca mais a igreja de hoje, afinal ele é simplesmente mais uma peça no organismo da instituição, podendo ser demitido ou admitido ao passar por um processo seletivo. Nesse caso em questão, percebemos uma falta de comunicação, visto eu ter sido demitido sem aviso prévio ou chamado ao gabinete presidencial.
Não precisamos de uma análise pormenorizada para percebermos que isso não condiz com a fala de Jesus a respeito da vida em comunidade que deveria ser a igreja.
Um segundo ponto que acredito ser interessante verificar é que há uma diferença entre igreja e “instituição igreja”. A igreja, como vimos anteriormente, é um modo de vida, ou seja, um viver que segue o exemplo de Cristo e sua forma de agir, um assumir da identidade de Jesus em nós fazendo com que esses que assumem um viver como o de Cristo sejam um e façam diferença no mundo. No projeto de Jesus, na sua oração sacerdotal de João 17 percebemos uma preocupação com a unidade, e até podemos colocar a mesma como espinha dorsal e caraceterística primeira da igreja. É na unidade que o mundo conhecereis que sois meus discípulos diz Jesus em certa ocasião.
A instituição igreja surge muito tempo depois e uma de suas primeiras atitudes é a tentativa de estabelecer a ortodoxia cristã, ou seja, definir de forma segura o que foi que os apóstolos, aqueles que tiveram contato com Jesus, falaram e em que devemos crer. Com o passar do tempo, embora tenha sido um bom projeto, sabemos que a instituição igreja caiu em um lamaçal muito grande culminando em suas atrocidades da idade média e por aí vai.
Hoje em dia, após o movimento neo-pentecostal, percebemos que a instituição igreja perdeu, em sua maioria, o caráter de igreja. A unidade, carro chefe desse projeto de Jesus é raramente encontrado, o que é facilmente percebido nas n igrejas que surgem simplesmente por divergência de opiniões.
Em terceiro lugar e talvez como consequência dessa não coincidência entre discurso e prática, percebemos a enorme quantidade de pessoas sem igreja. Tem crescido consideravelmente o movimento dos desigrejados, aqueles que por vários motivos, não pertencem mais a nenhuma instituição. Nesse meio percebemos tanto os que tem uma fundamentação teórica a respeito ao seu não pertencimento institucional, como também os que não tem nenhuma fundamentação teórica para tal. O segundo grupo tende a ser maior visto a reflexão sobre questões do tipo não serem muito incentivadas. Contudo é interessante perceber que nem todos que estão fora das instituições estão fora da igreja. Já ponderamos sobre a diferença entre igreja e instituição para sermos capazes de afirmar que nem todo que está na instituição está na igreja e nem todo que pertence à igreja faz parte de uma instituição.
Outro ponto que é interessante percebermos é que a maioria que sai das instituições não sai chateada com Jesus. Todas as pessoas que conversei até hoje que saíram das instituições geralmente estão chateadas com os representantes das institiuições. Esses representantes, por serem mal representantes, se tornam responsáveis por vários que abandonam a fé.
Com todas essas considerações, cabe a nós perguntarmos: Não estaria a instituição fadada ao completo esfriamento do amor proposto por Jesus quando falava sobre o fim dos tempos?
Penso que a resposta a essa pergunta seja: sim, não há volta para aquilo que a instituição se tornou. Reformar a instituição seria como dar um placebo a quem está doente promovendo uma pseudo-melhora retardando somente o aparecimento de sintomas que levarão ao óbito.
Mas diante disso, há alguma esperança? A essa pergunta diria: sim, há uma esperança. O viver cristão, baseado no viver de Jesus, é capaz de fazer renascer uma igreja dentro e fora das instituições. Igreja que faça diferença no mundo, mostrando que há uma forma diferente de viver na Terra.
Como diria Paulo: “Cristo em nós, a esperança da glória”, essa deve ser nossa esperança. De que com a assimilação do viver de Jesus em nosso viver, sejamos capazes de amar independente da instituição, de cuidar independente de ministério e de ensinar mesmo sem ser em esolas dominicais.
Assim, dizer: “creio” se tornará mais que um credo institucional, antes um modo de vida que transforme vidas e mude o mundo, mostrando que, além da instituição, a Igreja permanece e as portas do tentar viver de forma autônoma, fora dos parâmetros de Cristo, não prevalecerão contra ela.
Fabrício Veliq
16.07.12 – 13:55