Por um mundo sem máscaras: o dito de um palhaço
Encontrei certa vez com um palhaço. Perguntei a ele, um de seus maiores desejos com relação ao mundo. Eis o que me disse:
“Luto por um mundo sem máscaras.
Por um mundo sem máscaras virtuais que diversos tem usado para esconder seu jeito de ser na vida real, sendo nessas o mais divertido, o mais feliz, o mais bem humorado, o mais inteligente, sofrendo, muitas vezes, em seu interior a angústia de não se sentir assim.
Por um mundo sem as máscaras sociais em que fazemo-nos passar por aquilo que não somos somente para agradar aos outros que vivem no mesmo mundo que nós;
Por um mundo sem as máscaras corretivas, que, ao invés de mostrar a beleza natural de cada um, esconde as “imperfeições” impostas pela ditadura da beleza que invadiu nossos meios, em que é bonita a mulher que tem o corpo da Bündchen, os lábios da Jolie, os cabelos lisos como as princesas da Disney e a cor branca das europeias e que é bonito o homem que é alto, forte, cabelo cortado direitinho e que veste as roupas da tendência, fazendo a todos esses escravos e dependentes dos vestuários e cosméticos para se sentirem realizados, bonitos e dignos de se mostrarem ao mundo.
Por um mundo sem máscaras religiosas, que, ao invés de promover a liberdade, promove seguidores cegos de dogmas e preceitos arraigados dentro de uma cultura dominante. Máscaras essas, que destroem a todo coração humilde e disposto a fazer aquilo que é bom e é reflexo de Deus no homem.
Por um mundo sem máscaras políticas, que, ao invés de promover o bem geral da sociedade, faz com que ajamos para conseguir benefícios próprios, fazendo aliados em troca de favores, tornando diversas relações pessoais meramente utilitaristas, ou seja, o outro só me vale se posso conseguir alguma coisa através dele, seja um emprego, seja um status social, seja um atendimento prioritário na fila do hospital.
Por um mundo sem máscaras, sejam elas de que tipo for: um mundo em que cada um seja livre para ser o que quiser ser e se mostrar da forma que se é, sem se preocupar com aquilo que acharão de si.
Como palhaço que tenho que usar minha mascara para fazer os outros rirem, digo que luto contra essas, pois percebi que as máscaras destroem mais que promovem vida, que aprisionam mais que tornam livres, que enfeiam mais que tornam bonito, uma vez que nada traz àquele que a usa a não ser a ilusão de ser aquilo que não se é, ou aquilo que gostaria que os outros vissem que fosse.
E assim, meu amigo, fico a imaginar se todos deixassem de usar as diversas máscaras atrás das quais se escondem. Com certeza, veríamos pessoas mais livres, bonitas, autênticas e, sobretudo, felizes por ser que são.
Enfim, um mundo de humanos. E isso bastaria.
Mas, no fim do discurso, meu amigo, quem dará ouvido a um palhaço, por mais que concorde com suas palavras, lutando juntamente com ele para que o discurso se torne prática?”
Fabrício Veliq
28.05.13 – 13:31