Gosto de pensar sobre as inseguranças
Gosto de pensar sobre as inseguranças. Não dificilmente nos vemos rodeados por elas. Seja ao decidir um emprego, uma compra, um relacionamento, é algo que sempre vem a nós e nos atormenta.
Será que estou fazendo o negócio certo? Será que é a pessoa certa? Será que é o emprego certo? Será que é a hora certa? E tantos outros serás que temos que lidar ao longo de nossa vida e que determinaram nosso futuro. Decisões importantes que nos fazem querer ter a segurança de um “sim” em todas essas questões para, no final, decidirmos.
Embora saibamos que nunca poderemos ter certeza das coisas, observar os indícios sempre nos ajudam a tomar decisões mais acertadas diante das situações que chegam até nós. Mas, não seria isso também uma tentativa de segurança para nós mesmos? Não digo para não o fazermos. Observar isso é importante para não entrarmos em situações das quais nos arrependeremos posteriormente.
Contudo, penso que ainda continua a ser nossa luta constante de ter domínio sobre as coisas. Perceber que, na maioria das vezes, não conseguimos é se deparar com a constante insegurança do mundo o que, sem dúvida tende a nos causar medo.
Pensando sobre essas questões me vem a mente que Jesus foi um acontecimento de insegurança para o povo e seus discípulos.
Em primeiro lugar ao mudar a concepção antiga do que seria o domínio do Messias. Nesse sentido, frustra a todos aqueles que esperavam o domínio político e a libertação do domínio romano e o estabelecimento de um governo judeu onde Deus seria o real governante do povo através de seu ungido. Não seria isso um aspecto de extrema insegurança? Como eu, enquanto judeu que cresci ouvindo que o Messias se sentaria no trono e reinaria eternamente, posso acreditar em um que se diz Messias mas ao mesmo tempo é condenado como ladrão e escória da sociedade romana de meu tempo? Daria para ter segurança em um Messias assim? Acredito que em sã consciência, não.
Em segundo: a confiança que se trazia na obediência às leis judaicas. Afinal, a lei servia para separar o justo do injusto, o que segue a Deus e o que não segue. Jesus, ao transgredir diversos aspectos da lei judaica, vem mostrar que o modo pelo qual agimos como Deus, a forma pela qual a nova adoração a Deus devia ser feita, o novo lugar no qual Deus deveria ser adorado, tudo isso teria um novo significado e sua plenitude através do viver como Ele viveu. Talvez por isso do grande escândalo dos judeus de seu tempo. Afinal, quem poderia mudar a lei senão quem fosse seu autor? Jesus, ao fazer essas mudanças, como bem pontua Jacob Neusner, se coloca no lugar do próprio Deus, o que para um judeu seria algo inconcebível. Nesse sentido, penso que Jesus também não trazia nenhuma segurança para aquele que se apoiava na lei, de que ele era o Messias.
Pensando dessa forma, Jesus se mostra como um abalador das seguranças de seu povo: tanto daquela trazida pela lei, quanto da trazida pela tradição de espera do messias e, nesse sentido, convida aos seus seguidores a se lançarem diante da insegurança, em total esperança.
Hoje em dia vemos um convite diferente do proposto por Jesus. Somos convidados às certezas e às convicções.
Esquecemos que, para seguir no caminho de Jesus, nada temos além da esperança de que aquele que disse cumpre sua palavra para nós.
E assim, na caminhada, continuamos a perguntar como João Batista: “És tu aquele que deveria de vir, ou esperaremos outro?” sem nenhuma segurança, a não ser uma promessa de que nesse judeu, Deus pronunciou o seu “sim” para nós.
Pensemos
Fabrício Veliq
23.10.2014 – 11:23