Sobre o viver no futuro (reflexões de uma noite)
Não dificilmente penso que temos a tendência de viver no futuro.
Esses dias conversava com a linda da Andréa a respeito disso e percebemos que muitos de nós nos concentramos tanto naquilo que desejamos e planejamos que passamos a sofrer e viver ansiosos sobre as coisas que ainda viveremos.
Esse viver no futuro é o que, muitas vezes, nos impede de viver o presente.
Talvez seja meio “sessão da tarde” falar sobre a questão de se viver o presente e aproveitar cada momento como se fosse único porque ele não voltará jamais, ou que o tempo que temos hoje temos que viver em sua intensidade e por isso que se chama “presente”, todavia, às vezes as coisas mais óbvias são as mais difíceis de se colocar em prática.
Acredito que viver o presente seja uma dessas.
Penso que assumir a postura do “viver o presente” traz em si muito mais do que colocar em prática alguma dica de livro ou filme motivacional.
Acredito que, no seu âmago, se encontram tanto a questão da fé, quanto a questão da entrega, embora, em última análise poderíamos, até mesmo, juntar os dois, uma vez que fé sem entrega não é fé e que toda entrega pressupõe algum tipo de fé.
Por que digo isso? Simplesmente porque penso que na atitude de viver o presente está também contida a ideia de que não sou capaz de alterar, por mais ansioso que esteja, um côvado ao curso da minha vida, como diria certo judeu no século I e, assim, todo aquele que “vive o presente” se lança, em fé sobre o desconhecido e se entrega a ele, vivendo-o em sua intensidade.
A atitude de “viver o presente” revela também essa consciência de que meu futuro não me pertence. Isso não quer dizer que não devemos planejar, sonhar e fazer por onde alcançar aquilo que queremos. Não fazer isso não tem a ver com viver o presente nesse sentido que quero dizer nesse texto.
Assumir que o futuro não nos pertence talvez seja assumir que não tenho controle sobre todas as coisas que me sobrevirão, ou seja, não tenho o poder de determinar nada do que me acontecerá nos próximos 10 minutos, no mês que vem, no ano e até a morte, sendo cada dia um dia único que é me dado de existência.
Quer algo mais atemorizante que ter a sensação de que não se tem o controle da própria vida? Talvez por isso que muitos de nós vivamos no futuro. Viver no futuro nos traz essa segurança, pois sabemos onde iremos, já temos os planos traçados, já sabemos o que acontecerá, os caminhos, os métodos, etc.
No entanto, penso que o problema está em que, ao viver no futuro, somente caminhamos rumo ao horizonte que, quanto mais nos aproximamos dele, mais distante ele fica de nós e assim, nunca alcançamos esse “futuro”, uma vez que sempre haverá outro furuto e isso segue indefinidamente, causando, na maioria das vezes, o desespero e o desânimo de viver tentando alcançar o que tanto sonho.
Claro que nisso pode estar embutida a ideia de buscar a felicidade naquilo que nos é exterior, bem como também a necessidade que temos de sermos os poderosos sobre nós mesmos e nosso futuro.
Assim, parece que viver o presnte exige muito mais de nós do que viver no futuro ou no passado.
Ironicamente, grande parte de nós vivemos onde nem sabemos que estaremos vivos (futuro) e morremos no momento em que sabemos que é para nós (presente).
Pensemos…
Fabrício Veliq
14.05.15 – 07:01