Teísmo e Cruz – Pequenas reflexões a paritr de Jürgen Moltmann

Teísmo e Cruz – Pequenas reflexões a paritr de Jürgen Moltmann

Talvez a maior radicalidade da proposta do evangelho esteja no fato da possibilidade do sofrimento de Deus, frente à antiga ideia teísta do Deus que é impassível e que domina com mão de ferro todo o mundo, tendo ele em seu controle.

Essa ideia do Deus monarca, própria do teísmo que se instaurou, talvez desde o início da estatização do cristianismo por Constantino e companhia, sempre volta de tempos em tempos, mostrando que nada há novo debaixo do sol.

Atualmente, vemos essa ideia a partir dos diversos discursos de pregadores e líderes cristãos. Deus é aquele que domina sobre tudo, aquele que tem o seu exército sempre poderoso, e pronto para atacar as linhas de frente do inimigo para destruí-lo. É aquele que vai à frente, quebrando barreiras, abrindo portas, fazendo todo o impossível, porque Deus é o Deus do impossível. É o Deus que tudo pode e tudo faz.

Contudo, se olharmos para o evangelho e aquilo que pressupõe com a morte de Jesus na cruz, percebemos um Deus diferente do supracitado. Na cruz, o que se mostra é um Deus abandonado, um Deus esquecido, um Deus morto como blasfemo e revoltado (Moltmann). Na imagem da cruz, o que vemos é um Deus que sofre, que aceita o escárnio e que aceita a humilhação, devido à sua abertura àquele que é diferente de si e que, nessa abertura, mostra o amor que é.

Pensar na cruz, que é a base da doutrina cristã, nos faz repensar o conceito de Deus. Pensar Deus a partir das modalidades teísta, ou pensar Deus a partir da modalidade do evangelho. Cada qual tem suas especificidades e cada qual tem suas consequências. Caso queiramos ver as consequências do pensamento teísta, basta ligarmos a TV em qualquer canal de pregação aos sábados pela manhã, ou nos domingos em qualquer igreja neopentecostal perto da sua casa.

Ver, porém, a modalidade proposta pelo evangelho, se mostra bem mais complicada. Afinal, algo que propõe que se deve vencer o mal pelo amor, que se deve considerar os outros superiores a mim mesmo, algo que propõe que devo me abrir ao meu próximo, sofrer com ele, aceitar me tornar desnecessário, buscar o outro em sua inteireza, a ponto de poder me entregar a esse outro, lutar contra as injustiças de um mundo perverso, denunciar a ganância dos poderosos, a imoralidade da riqueza, a impunidade dos que fazem o mal à sociedade, nunca foi bem visto pelos religiosos e líderes do povo, uma vez que implicaria em divisão de riquezas, condições dignas de trabalho, e tantas outras coisas que não fazem parte daquilo que promove status em nossa sociedade atual.

E essas são apenas algumas das consequências da modalidade proposta pelo evangelho,

Diante disso, é  ao olhar para a cruz que é possível entender, no cristianismo, porque Deus é denominado como Amor nas cartas de João, Mas pensar Deus como amor, a partir do evento da crucificação, deve nos fazer também repensar todo conceito de Deus.

Se levarmos a sério o testemunho de Cristo na cruz, perceberemos que um Deus teísta não se encaixa nas categorias cristãs.

Levar em conta a radicalidade da cruz e o sofrimento de Deus proposto por ela implica, dentre outras coisas, repensar a pessoa de Deus em nossos dias.

Como diria Bonhoeffer: “Um Deus que não pode sofrer, também não pode amar”.

Pensemos

Fabrício Veliq
17.02.16 – 07:46

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