Teologia e Hambúrgueres
Na última semana recebi um grande amigo em minha casa. Como menu, optamos por fazer hambúrgueres, tanto por ser algo que gostamos, quanto por ser mais fácil e rápido de se preparar. No entanto, ao invés de pedirmos o hambúrguer em um tele entrega, resolvi eu mesmo fazê-los.
Para se fazer um hambúrguer é necessário somente carne e gordura. Nada mais. No entanto, o que dá o sabor e a suculência no hambúrguer é o devido equilíbrio entre a quantidade de carne e a quantidade de gordura utilizada. Se utilizarmos muita carne e pouca gordura, o hambúrguer tende a ficar seco demais devido ao calor na frigideira na hora de fritá-lo; se, porém, colocarmos muita gordura, provavelmente, ele se desmanchará na frigideira, uma vez que a gordura se derreterá totalmente, deixando-o sem consistência. Equilibrar carne e gordura é fundamental para que se tenha um bom resultado no final e seja possível comer um bom hambúrguer quando bater aquela fome.
Talvez você esteja se perguntando: mas, afinal, o que isso tem a ver com teologia? A meu ver, tudo. Um bom teólogo é aquele que consegue fazer o equilíbrio entre a quantidade de carne e gordura no seu fazer teológico. Aqui, para questões meramente didáticas, consideremos a carne como o conhecimento teológico e a gordura como a práxis cristã, sem o intuito de polarizar os dois termos.
Não dificilmente vemos diversos teólogos e diversas teólogas que tem enorme conhecimento sobre as Escrituras, sobre os documentos da Igreja, sobre os dogmas, sobre a história da Igreja e dos cristãos; são exímios pregadores e exímias pregadorase, algumas vezes até intimidam àqueles com quem falam dado seus conhecimentos. No entanto, não dificilmente, não se engajam nos problemas de suas comunidades, não se importam com as condições dos menos favorecidos, vivendo assim em um mundo somente de conhecimento teórico. Com o passar do tempo, esses teólogos e essas teólogas se tornam secos e sem sabor. Você até percebe que ali está alguém com grande qualidade, porém se tornou intragável devido ao seu conhecimento desvencilhado da prática.
Da mesma forma, há teólogos e teólogas que só se preocupam com a prática cristã, desvencilhado do aprofundamento acerca das questões que perpassam o conhecimento teológico. São aqueles e aquelas preocupados em fazer algo, que sentem o chamado forte no seu coração e querem sair a todo canto pregando, construindo igrejas, fazendo discipulado, etc. Por mais nobre que isso seja, sem o conhecimento teológico é grande o estrago que, muitas vezes, os bem-intencionados e bem-intencionadas causam para onde vão. Uma vez que só podemos oferecer aquilo que temos, esses teólogos e essas teólogas passam a ensinar somente suas experiências e, na maioria das vezes, observando e julgando todas as situações por meio delas. Com o passar do tempo, esses teólogos e essas teólogas fazem com que a comunidade não adquira a consistência necessária para prosseguir na caminhada cristã.
Assim como um bom hambúrguer, o teólogo e a teóloga necessitam do equilíbrio entre a carne (conhecimento teológico) e a gordura (prática cristã) de maneira que possa suprir tanto as necessidades intelectuais dos membros de sua comunidade, como também se importar com as questões nas quais o conhecimento teórico pouco ajuda. Uma vez adquirido esse equilíbrio, o teólogo e a teóloga devem tentar mantê-lo de maneira constante para que o crescimento da comunidade seja permanente e seja algo de saboroso para o lugar onde ela está inserida.
A proporção, caso o leitor queira tentar fazer um hambúrguer em casa, é de 20 a 30% de gordura para cada quantidade de carne. Como exemplo, caso se tenha 1kg de carne, misture 200 a 300 gramas de gordura para obter um hambúrguer equilibrado. Para o caso da teologia, recomendo sempre que seja 50% para o conhecimento teológico e 50% para a práxis cristã.
Da série dos textos para o Portal Dom Total. Link: