Liberdade: um caminho estreito a seguir
Dentre os diversos modos pelas quais podemos pensar nossa relação com a liberdade, dois deles sempre me chamaram a atenção frente às diversas conversas que tenho com diversas pessoas.
Em primeiro lugar, penso naqueles e naquelas que não conseguem lidar com o fato de serem livres, aqueles e aquelas para os quais a qual a liberdade é assustadora. Ou seja, elas preferem viver sob o jugo das ordenanças, sob o fardo das condenações, sob o fardo da “lei”.
Talvez, essa seja o melhor modo que elas tem para caminhar no caminho que julgam o caminho estreito, uma vez que se considera que esse caminho estreito é aquele onde há abnegação das vontades e desejos, em que tudo que é da carne é pernicioso, faz mal e não deve ser alimentado nunca por um cristão verdadeiro, algo comumente pregado em diversas igrejas tanto católicas como protestantes ainda em nossos dias e que nos remete às visões puritanas dos séculos XVII e XVIII. Em todos os tempos percebemos que há sempre os que precisam de ter sempre alguém vigiando, alguém mostrando como se deve andar a fim de que não se pereçam.
Nesse sentido, a visão do Deus punitivo, cobrador, que retribuirá cada um segundo suas obras, que condenará os infiéis que não seguem as ordenanças à risca, querendo ou não, é uma visão confortadora para esses que se submetem à essas exigências institucionais e religiosas, afinal, falas como “o sofrimento do tempo presente não se podem comparar com a glória a ser revelada em nós” como disse Paulo em sua carta aos Romanos, bem como “aquele que não negar a si mesmo e não tomar a sua cruz e vir após mim, não é digno de mim” como disse Jesus, podem também, quando mal interpretadas, gerar esse tipo de comportamento e modo de vida.
Em segundo lugar, penso naqueles e naquelas que não entenderam o conceito de liberdade pregado no discurso de Jesus e no discurso de Paulo em Gálatas 5: “para a liberdade que Cristo vos libertou. Permanecei pois livres e não submeteis novamente a jugo de escravidão”, e entendem a liberdade como o fazer tudo que se quer fazer na hora que se quer fazer sem se preocupar com os princípios éticos das ações.
Nesse caso, a dificuldade em lidar com a liberdade está ligado à concepção de Graça que possuímos.
Geralmente, por ouvir que agora é a dispensação da graça, que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, que tudo é puro para os puros e outros n textos que poderíamos citar, passa-se a encarar a graça como sinônimo de “sem limite”, ou como sinônimo de “sem lei”, e assim, começa-se a seguir simplesmente os desejos em fazer as coisas, sem muitas vezes pensar nos princípios norteadores daquilo que julgam ser a palavra de Deus.
A esse segundo grupo falta a compreensão de que a graça é o fim da lei, pelo fato de ressignificá-la de acordo com a mensagem de Jesus, bem como entender que um indício de liberdade não é fazer tudo que se quer, mas poder escolher aquilo que não se faz.
Temos um bom exemplo dessa relação da liberdade na parábola do filho pródigo. Podemos ver o filho mais velho como aquele que exemplifica o primeiro caso, ou seja, são aqueles e aquelas que não conseguem lidar com a liberdade por não reconhece-la como um presente que o Pai nos concede, e o filho pródigo como aquele e aquela que entende a liberdade como fazer tudo o que se quer fazer, sem entender o que significa o amor do Pai.
Dentre os dois, o caminho que mais me impressiona é o caminho da liberdade do segundo caso, o baseado em Gálatas 5. Impressiona pois é uma linha muito tênue a linha da liberdade e da graça. Com pequenos deslizes, podemos cair em um caminho que não é o caminho de Jesus. Com o caminho da liberdade podemos fugir do caminho do amor e, dessa forma, andarmos distantes do caminho de Cristo.
Nesse sentido, andar pelo caminho estreito também pode ser encarado como o andar pelo caminho da liberdade. Um caminho pouco encontrado por muitos e que conduz a uma vida abundante e em amor como proposto por Jesus.