O diálogo inter-religioso indireto como necessidade para a situação atual do país
Jürgen Moltmann, teólogo protestante alemão possui duas categorizações para falar a respeito do diálogo inter-religioso.
A primeira é aquilo que chama de um diálogo inter-religioso direto. Nessa categoria, as religiões se preocupam em discutir acerca das questões fundamentais das respectivas fés, tais como a salvação, a visão do ser humano dentro de seus quadros sistemáticos, a questão da transcendência, dentre outras. Assim, o diálogo inter-religioso direto pressupõe tanto um conhecimento profundo da religião que se professa, quanto também a abertura para ouvir o diferente e aquele que não pensa igual a fim de encontrar os pontos de acordo e desacordo presentes nos diversos discursos.
A segunda categoria proposta por Moltmann é a do diálogo inter-religioso indireto. Nessa categoria, o que está em jogo são questões que pertencem a toda a humanidade, independente de língua, credo e país, tais como as questões da crise ecológica, dos direitos humanos, da ameaça nuclear etc. Nesse sentido, não se fala a respeito de uma questão “nossa” e uma “deles”, mas sim de um problema que afeta a ambos os lados e o diálogo seria, então, para propor soluções a respeito dessa questão.
Nos dias atuais, a população brasileira tem sofrido um constante ataque aos seus direitos por parte do governo que está no poder. Indígenas são atacados covardemente pela polícia de Brasília, bem como são impedidos de entrar no Senado, ainda que houvesse reunião já marcada com representantes do governo; a reforma trabalhista, que tira inúmeros direitos conquistados pelos trabalhadores, e ao mesmo tempo recebe forte desaprovação popular é aprovada na Câmara dos deputados dois dias antes da Greve Geral que vai contra tal medida; a reforma da Previdência, que da mesma forma que a reforma trabalhista, condena os mais pobres a trabalharem mais para, no final, se chegarem até a data de aposentar, receberem um valor que não dá para se ter uma vida digna; os inúmeros casos de corrupção em todas as esferas do poder político e do judiciário que não recebem por parte de quem deveria julgá-los a condenação necessária, mas, ao invés disso, são feitos conchavos e acertos para que os mesmos corruptos se mantenham no poder e mantendo, juntamente com os grandes empresários, o controle do país e o subjugar dos mais desfavorecidos.
Nesse cenário, é necessário que as diversas religiões do país se unam em diálogo para proporem alternativas para as diversas crises que passam a população, especialmente as mais pobres. Nesse momento, o tema comum é a retirada de diretos da população trabalhadora e, em sua maioria, pobre, bem como a abertura do país a uma economia neoliberal que, por onde passa, deixa os ricos mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Diante desse problema que afeta a maioria das pessoas pobres do país, é necessário que todas as representações religiosas que existem no Brasil se levantem como vozes proféticas frente a essas atrocidades e lutem para que a dignidade humana, e não o mercado, seja a balizadora das decisões que afetam os cidadãos do país.
O diálogo inter-religioso indireto se mostra como tarefa urgente, necessária e imprescindível nesse momento da nação brasileira e o que se espera é que esse diálogo aconteça sem omissão de nenhum de seus representante a fim de que, por meio dele, os que lutam pela manutenção das conquistas sociais se sintam fortalecidos e saibam que não estão sós nessa luta.