Diálogo ecumênico: questão necessária para o diálogo inter-religioso
Inútil é tentar resolver os problemas inter-relacionais com os de fora sem que os problemas internos estejam resolvidos. Quando se fala a respeito da teologia e seu engajamento com o diálogo inter-religioso, essa dinâmica também se mostra como verdadeira. Dessa forma, tentar fazer um diálogo inter-religioso sem se atentar para um aprofundamento do diálogo ecumênico tende a tornar o primeiro pouco efetivo. Afinal, como propor que se ouça o diferente e aquele que tem algo a dizer que, muitas vezes, vai contra o credo que o Cristianismo professa, se não se está disposto a ouvir aquela voz destoante que fala a respeito da mesma fé, porém, de uma forma diferente? Como se mostrar aberto para os de fora se não se está aberto para as vozes que vem de dentro da própria comunidade?
Mesmo que o termo ecumenismo esteja presente desde os primeiros Concílios Ecumênicos cristãos, foi com a Reforma Protestante, em 1517, e ainda mais com os movimentos missionários evangélicos na Ásia e África ocorridos no século XIX e XX, que obtivemos, na contemporaneidade, aquilo que se entende por diálogo ecumênico, ou seja, uma tentativa de promover harmonia entre as diversas denominações cristãs, como bem define Elias Wolff.
Criações como a Conferência Missionária Mundial e o Conselho Ecumênico das Igrejas em âmbito protestante alavancaram as discussões a respeito da unidade necessária entre as diversas denominações. Mais tarde, em âmbito católico, o Concílio Vaticano II, reconhecendo esse movimento como obra do Espírito Santo, se torna responsável em promover a entrada desse diálogo em seu ambiente.
Atualmente, o Papa Francisco, no espírito do Vaticano II, tem se mostrado como grande multiplicador da questão da unidade cristã e, consequentemente, do diálogo ecumênico. As posturas de Francisco refletem seu desejo de trabalhar em prol dessa unidade, a fim de que a Igreja possa ser vista como aquela que segue os passos de seu Mestre. Nesse sentido, seus esforços tem sido alvo de diversas críticas por parte de movimentos mais conservadores dentro do ambiente católico.
Em ambiente Protestante, por ser desde de sua origem um movimento “dividido”, ao mesmo tempo em que se percebe avanços na abertura para o diálogo ecumênico por parte de algumas denominações, principalmente a igreja Luterana, também se percebe, principalmente, no movimento pentecostal e neo-pentecostal, que ainda se permanece o ranço das dificuldades enfrentadas no início do século XX, o que gera imensas dificuldades para a questão ecumênica.
No cenário atual, é necessário e urgente que o diálogo ecumênico continue avançando entre Protestantes, Católicos e Ortodoxos, a fim de que possa haver maior unidade tanto de pensamento, quanto de ações efetivas para a transformação do mundo. O avanço na questão ecumênica é caminho necessário e imprescindível para que o Cristianismo se posicione no diálogo inter-religioso.
Sem essa disposição para se resolver os diversos conflitos internos e doutrinais que existem no meio cristão, as louváveis tentativas de diálogo inter-religioso, dentro do escopo teológico, correm o risco de serem taxadas com o velho ditado popular: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.