Pode haver diálogo verdadeiro sem empatia?
Empatia costuma ser uma daquelas palavras que são muito faladas, mas pouco compreendidas no dia a dia. Ela tem sua origem, segundo o dicionário etimológico, no termo grego empathéia, que analisado, traz uma boa noção daquilo que a palavra empatia quer dizer. O termo Em tem o mesmo significado da conjunção “em” do português; pathéia, por sua vez, vem de pathós, que tem o significado de “paixão”, “sofrimento” ou “sentimento”.
Dessa forma, se pode dizer que a empatia está diretamente ligada com a ideia de um sofrimento que se tem ao se colocar no lugar do outro. Ou seja, ser empático é ser aquele ou aquela que que se coloca no lugar do outro na tentativa de compreender e vivenciar seu sofrimento.
Se se toma o mundo atual, marcado pelo individualismo, pela concorrência feroz e pelo mercado que seleciona os “bons” e deixa a mercê os que são “maus” empregados, ser uma pessoa empática não é uma tarefa tão simples e trivial como se imagina.
Clarificado esse conceito, é possível afirmar que sem empatia não pode haver um diálogo que cumpra o seu interesse de transformar para melhor aqueles que dele participam. Para que haja diálogo é necessário que o primeiro esteja disposto a ouvir e compreender o que o outro tem a dizer para, somente então, falar algo a respeito do assunto em questão. A empatia entra tanto na disposição de ouvir, quanto na tentativa de compreender. Assim, todo aquele que dialoga precisa tentar se colocar no lugar do seu interlocutor e, ao mesmo tempo, tentar entender os pressupostos utilizados para, uma vez entendido, poder responder, esperando do outro o mesmo compromisso e disposição. Nesse sentido, ambos precisam usar da empatia para dialogar.
O Cristianismo, ao longo de sua história, se mostrou pouco empático com as outras culturas, realidades e religiões existentes nos lugares no qual chegou. A partir da premissa de que trazia a verdade última para o mundo, não via problemas em dizimar comunidades de “desobedientes” e converter à força os mais fracos.
Ainda hoje, em muitas denominações cristãs, a postura não-dialogal se faz presente. O correto é somente aquilo que se diz nos púlpitos e os pensamentos divergentes são, constantemente, silenciados, ou em casos mais graves, exterminados da comunidade para que não se espalhe e “contamine” o resto dos fieis.
Contudo, seria essa uma postura cristã que segue os passos de Jesus Cristo? Ao se observar o caminhar de Jesus entre seus discípulos, conforme a narrativa evangélica, é possível perceber um Mestre disposto ao diálogo, sendo empático com aqueles que vinham até Ele, não censurando os corações honestos que pediam explicações e expunham suas dúvidas. Ao voltar no Antigo Testamento, o convite de Deus para o diálogo também se mostra presente diversas vezes, como percebido em Isaías 1:18: “Vinde e arrazoemos, diz o Senhor” e Miqueias 6:3: “Meu povo, que foi que eu fiz contra você? Fui muito exigente? Responda-me”. Ao se observar os contextos desses textos e também da narrativa evangélica, é possível perceber a imagem de um Deus que sofre com o ser humano e, nesse sentido, é empático com ele ao longo de toda sua história.
A empatia, condição necessária para o diálogo, bem como a disposição para que esse diálogo ocorra se mostra presente em todo o relato bíblico. Não deveria ele também estar presente em nossa convivência diária com as outras denominações e religiões?