Até onde a teologia tem se aberto para o diálogo?
Atualmente o diálogo se apresenta como sendo uma tarefa importante e salutar, caso a teologia queira se fazer presente de maneira efetiva em nosso mundo e ter um discurso que faça sentido às pessoas de nosso tempo.
Esse contexto justifica o constante apelo para que ela se torne mais aberta e atenta às questões que rodeiam a sociedade. Assim, ao falar sobre si mesma, não o fará somente de um lugar a parte, de uma maneira meramente ideológica, antes se dirá a partir da vivência com a população e na tentativa de lançar alguma luz diferente dentre as diversas que são lançadas pelas outras áreas do conhecimento.
Uma coisa que é esperada por todos os que participam de um diálogo é a abertura do outro para ouvir posições, muitas vezes, diferentes daquelas que se defende. Nesse sentido, juntamente com a abertura para o ouvir, algo que é imprescindível é uma disposição para se olhar para dentro a partir do questionamento e da indagação do nosso parceiro de diálogo.
Durante muito tempo, a posição do Cristianismo não se mostrou dessa forma. Quando se tratava das outras religiões e até mesmo de outras doutrinas cristãs, na maioria das vezes, o Cristianismo olhou para essa situação com um olhar de juiz, mais do que com o olhar de agente dialogal.
Não é difícil buscar na história e perceber a ação do Cristianismo em condenar posturas que, mais tarde, ele veio a assumir como verdades descobertas por outras áreas do conhecimento. O caso de Galileu ressoa até hoje, sendo há muito pouco sua “absolvição” por parte da Igreja. Essa postura, porém, não se mostra somente do lado dos nossos irmãos católicos. No próprio protestantismo, diversos assassinatos foram cometidos por Calvino, em Genebra, a fim de ter somente um povo que “servia à verdade”. Esses pequenos exemplos, dentre tantos outros que se poderia mencionar, são capazes de mostrar a dificuldade que o Cristianismo, ao longo da sua história, teve em olhar para dentro de si a partir da interpelação do outro.
Essa postura, muito marcante na história cristã, começa a mudar consideravelmente com os movimentos ecumênicos do século XIX e o Concílio Vaticano II, no que tange às questões de cunho religioso. Atualmente, tanto católicos como protestantes, pelo menos em suas teologias, consideram errado excluir uma religião porque não pensa da mesma forma que eles. Ao mesmo tempo, em se tratando de um cristianismo popular, seja católico, seja protestante, ainda está em voga a exclusão sistemática de diversas religiões, principalmente as de matrizes africanas.
A interpelação que o modo de viver e ver o mundo que as religiões de matrizes africanas interpelam o Cristianismo ainda não foi aceito pela maioria dos cristãos. Não dificilmente, pode-se perceber que a ligação entre religiões africanas e demônios se faz extremamente presente nas falas e nas celebrações de ambas confissões.
Nesse cenário, ainda se percebe um pensamento preconceituoso e estereotipado, que se volta para essas religiões com a postura de um conhecimento maior, mais sublime e, até mesmo, melhor do aquele manifestado nas religiões africanas. Nesse sentido, sem desmerecer algumas aberturas que acontecem aqui e ali nas igrejas cristãs protestantes e católicas a respeito das religiões de matrizes africanas, o caminho de olhar para dentro de si a partir da interpelação dessas religiões se mostra ainda, extremamente longo. Agora, e se além da questão das religiões africanas, se questionasse também a abertura da teologia para as interpelações feitas pela Ciência, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Psicanálise, e tantas outras existentes na sociedade? Estaria a teologia em atitude realmente dialogal com elas?