Toda Teologia deve ser política
É muito comum, hoje em dia, vermos e ouvirmos diversas pessoas que querem uma teologia que não se envolva com as questões políticas, e que querem que essa teologia seja feita somente visando às coisas concernentes à alma ou aos seres celestiais.
Para essas pessoas, pensar uma teologia política é desvirtuá-la daquilo para o qual ela foi criada, que no seu entender é somente falar a respeito de Cristo como salvador da humanidade e levar pessoas a se converterem ao Cristianismo.
Porém, pensar a teologia dessa forma é, na verdade, esvaziá-la de todo seu sentido. Uma teologia cristã deve, por excelência, partir da vida de Jesus. Que o acesso a essa vida se dá por meio das narrativas evangélicas parece algo bem claro e é de se duvidar que algum cristão discordará disso.
Contudo, se a teologia tem como fundamento a pessoa de Cristo, sua ação e sua vida, de acordo com as narrativas evangélicas, então ela precisa ser pensada na concretude do mundo, e não somente relacionada com questões de ordens metafísicas.
Pensar a partir da concretude tem a ver com pensar no nível da comunidade, ou em outras palavras, pensar no plano da Cidade, Estado ou País onde tal teologia quer ser feita. Isso nos leva a dizer que a teologia se faz a partir da polis (se quisermos usar o termo grego) e, nesse sentido, ancorada no exemplo de Jesus, é, necessariamente, política, e, justamente por ser política, deve se preocupar com as questões da polis onde está inserida.
Se o fundamento é Cristo, então toda teologia se implica diretamente na luta pela justiça; contra a violência; na luta contra a pobreza; contra o ganho ilícito; contra a guerra; contra os sistemas que geram morte; a favor dos marginalizados e excluídos, podendo essa lista seguir infinitamente, mostrando que uma teologia que se baseia no exemplo de Jesus Cristo tem a cidade como seu lugar de fundamentação e de ação.
Assim, uma teologia que não é política, dificilmente, será cristã. Isso pelo motivo muito simples de que toda ação de Jesus foi, efetivamente, política, ou seja, visava à transformação da Cidade e sua realidade. Como consequência de sua vida política de abertura ao próximo e a Deus, teve sua morte decretada, também, politicamente.
Dessa forma, pensar uma teologia preocupada somente com questões metafísicas é fugir do exemplo que se vê nas narrativas evangélicas a respeito da vida de Jesus e nada mais é do que cooperar para a legitimação da exploração e morte dos mais fracos por parte dos poderosos desse mundo.
Com isso em mente, é necessário que a teologia atual volte seus olhos para as questões políticas de uma maneira cristã. Ao perceber os diversos charlatões da fé ocupando lugares nos centros de tomada de decisão de nosso País, Estado e Cidade, devemos, enquanto teólogos e teólogas, denunciar essas atrocidades que são feitas em nome de um suposto Cristianismo que segue na contramão de tudo aquilo que Jesus, em sua vida, propôs. Assim, posicionar-se politicamente é tarefa cristã e fugir disso nunca foi uma atitude de Jesus de Nazaré, conforme nos mostram os Evangelhos.