Teologia e Cultura: companheiras inseparáveis.
No texto da semana passada falou-se a respeito de alguns desafios para uma teologia hermenêutica, ou seja, de uma teologia que faça sentido para homens e mulheres de nossa sociedade. Dentre eles, o aspecto cultural também foi elencado. Esse aspecto cultural é consequência de uma teologia que se mostra aberta e disposta ao diálogo com o diferente, uma vez que vê nesse diferente uma possibilidade para amadurecimento e crescimento da própria fé.
Diante disso, pensar a teologia e sua total correlação com a cultura se mostra imprescindível. Durante muito tempo na história do Cristianismo essa estreita relação foi deixada de lado, uma vez que se acreditava que a verdade revelada de Deus tinha uma forma pronta e definida, e por isso, todas as culturas do mundo deveriam, necessariamente, se adequar a essa forma para garantir sua participação no plano divino. Ainda hoje vemos resquícios desse tipo de postura nas diversas campanhas de evangelização, em que um padrão cultural é levado e, ao mesmo tempo, demanda-se que aqueles/as que escutam essa mensagem se convertam ao modo de viver que o/a evangelizador/a vive. Esse tipo de postura, por sua vez, na maioria dos casos, é o responsável pela destruição de culturas milenares e sabedorias populares, visto relegarem-nos a termos como fantasias, enganos, falta de conhecimento da verdade, dentre tantos outros que poderíamos citar.
Contudo, a mensagem de boa nova nunca foi uma mensagem contra aspectos culturais profundos de um povo, antes, uma mensagem de amor, libertação e reconciliação. Em outras palavras, a boa nova cristã vem dizer que Deus ainda se importa com a humanidade e, em Cristo, reconcilia consigo o mundo inteiro. É importante perceber que essa mensagem não tem um aspecto doutrinal e muito menos fechado. A doutrina que se cria vem sempre depois da mensagem que se recebe. Dessa forma, ligar pregação de boa nova à pregação de um corpo meramente doutrinal se mostra como falta de compreensão da mensagem de Jesus que promulga que o amor de Deus alcança a todos e todas que se volta para Ele/a no intuito de fazer a sua vontade.
Essa mensagem abarca, então, todas as culturas e de maneira nenhuma pede o sacrifício destas para que seja compreendida e vivenciada. Partir da premissa bíblica de que o Espírito de Deus age em toda terra e é derramado sobre toda a carne implica reconhecer que sua ação também se dá nos locais onde as matrizes de compreensão Ocidentais não se fazem presente. A mensagem de Jesus não é uma mensagem do Ocidente e a boa nova não é uma construção lógico-formal que só pode ser anunciada e reconhecida em concatenações racionalizadas que são próprias do Ocidente cristão.
Assim, faz-se necessário pensar uma teologia intercultural que fuja dos padrões epistemológicos de cunho eurocêntrico e se volte para os conhecimentos e formas de pensar dos povos que não tem o Ocidente como matriz, tais como os povos indígenas, tribais, andinos etc. Esse trabalho de uma teologia intercultural tem se expandido e, juntamente com a teologia decolonial se mostram como novas formas de pensar o fazer teológico na contemporaneidade.
Teologia e cultura não são coisas desassociadas, antes, uma pertence à outra, uma vez que toda teologia nasce em uma determinada cultura e tem sua forma de explicação ancorada também nela. Da mesma forma, uma cultura é influenciada pela teologia que nela é feita, de maneira que compreender e trabalhar nesse círculo é fundamental para uma teologia contemporânea.