Sobre a pressa e a perseverança
Hoje se vive em um mundo apressado. Todas as demandas são para ontem e a cada dia se diminui o tempo daquilo que é considerado uma espera aceitável. Uma encomenda demorar mais de três dias para chegar é um absurdo, um sistema que demora mais de 1 minuto para processar algumas informações é inadmissível, um e-mail que leva mais de um dia para ser respondido é motivo de angústias intermináveis e por aí vai. Esses são pequenos exemplos, dentre muitos, nos quais é possível perceber como que a urgência tornou-se o modus operandi da vida da maioria das pessoas.
Nas relações interpessoais também é possível perceber o mesmo fenômeno. Não é difícil ouvir relatos de pessoas que dizem que demandam do companheiro ou companheira mudanças rápidas e de um dia para o outro, sem levar em conta todo um processo que, muitas vezes, determinadas pessoas necessitam para readaptações e adequações a um novo modo de viver.
As empresas, formadas por pessoas, seguem na mesma toada e, assim, já querem que seus funcionários e funcionárias cheguem prontas para a função que farão. Treinamentos, quando existem, devem ser feitos de maneira “rápida e eficiente”, uma vez que “tempo é dinheiro” e, portanto, manter um funcionário ou funcionária em treinamento por mais de 1 dia, em alguns lugares, chega a ser um desatino para a boa gestão.
Quando se move para a esfera religiosa, é possível perceber também esse tipo de comportamento. Muitas pessoas, quando pensam na relação com Deus e com o sagrado, fazem-no de acordo com os parâmetros da sociedade capitalista e urgente na qual se vive. Assim, não é difícil de encontrar pessoas que desejam uma intimidade com Deus e com a comunidade, mas sem estar disposta a passar tempo com ela, nos círculos de convivência da igreja ou nos grupos de estudos bíblicos e orações. Diante das inúmeras coisas que precisam ser feitas nesse mundo em que se está sempre correndo, a própria construção dos relacionamentos duradouros também são vistos sob essa perspectiva.
Dessa forma, deixa-se de lado um dos princípios básicos para conhecimento de qualquer coisa ou pessoa, que é a dedicação do tempo. Não se cria amigos e amigas sem dedicação, sem esforço e sem perseverança. De maneira análoga, caso se queira ser amigo ou amiga de Deus é necessário estar disposto a passar tempo com ele e se interessar pelas questões que ele também se interessa. Como toda amizade, a amizade com Deus também demanda um caminhar continuo em direção a ele.
Os próprios Evangelhos, em suas narrativas, mostram como Jesus exorta aos seus discípulos para o princípio de que aqueles e aquelas que perseverarem até o fim serão salvos/as, o que pressupõe que o Reino de Deus não é alcançado com pressa, mas com constância. Diversas parábolas de Jesus, ao falar a respeito do Reino de Deus, também trazem essa perspectiva. Esse Reino, dentre outras comparações, é comparado tanto à semente de mostrada, quanto ao fermento que leveda a toda massa. Nos dois casos, é possível perceber tanto a estreita ligação que Jesus faz com os fenômenos naturais do dia a dia das pessoas com quem ele falava, quanto a perspectiva da espera que é necessária para alcançar esse Reino.
Tanto na agricultura, quanto nos processos de cozinhar alimentos, a categoria da paciência se torna imprescindível. Não há nada (aqui, considerando de maneira natural), que se possa fazer para que uma planta cresça mais rápido, ou para que determinado alimento chegue ao ponto desejado, a não ser esperar pelo tempo necessário para alcançar o seu termo. Tentar apressá-los pode ser danoso para a comida e danoso para a nova planta que deseja florescer.
Diante de um mundo tão apressado, torna-se importante atentar para os processos que ocorrem no mundo natural e que revelam uma grande lição para a humanidade: de que é necessária a perseverança e paciência para se alcançar certas coisas, tais como intimidade e conhecimento.
A perseverança é algo a ser aprendida. Aqueles e aquelas que a aprendem, mesmo em momentos difíceis, conseguem se lembrar de que não se chega ao final de uma corrida longa aquelas pessoas que saem em disparada, mas sim as que mantêm a constância de suas passadas.