O Deus cristão não deseja a guerra
É sabido que as guerras são uma das coisas mais lucrativas que existem. São várias empresas e vários países que se beneficiam intensamente com a venda de armas, tanques, munições e todo aparato bélico para ambos os lados da disputa. Nesse sentido, a indústria da guerra não tem outro lado senão o lado do lucro e do próprio capital.
As guerras, por sua vez, não são coisas do agora. Os diversos filmes, livros, peças teatrais etc mostram como que, desde os primórdios da sociedade, as guerras foram os meios para aumentar o território, os suprimentos e, consequentemente, aumentar o próprio poder.
O próprio texto bíblico, no Antigo Testamento, mostra as diversas guerras nas quais o povo de Israel entrou, visando combater algum tipo de inimigo que o oprimia e, também, para aumentar o seu próprio poder. A dinastia de Davi, homem de sangue, o leão da tribo de Judá que devorava seus inimigos conquistou seus territórios a base de muitas guerras e muitas disputas. Diversas delas, por sua vez, aconteceram sob o que consideravam a vontade de Deus para a libertação do seu povo do domínio e opressão dos seus inimigos. Nesse sentido, o Deus apresentado pelos vencedores em Israel nos tempos de guerra foi aquele que passou a ter o título de Senhor dos Exércitos, Deus forte e poderoso que destrói e aniquila os seus inimigos. Essa imagem de Deus, bem característica das regiões em torno de Israel, que consideravam a guerra entre as nações como as guerras entre os deuses, não podia ser diferente em uma sociedade henoteísta (a ideia de que há vários deuses, mas um deus é maior do que todos os outros).
Com isso em mente, não é difícil compreender como que, após o exílio na Babilônia, a sociedade de Israel começa sua transição de um henoteísmo para um monoteísmo. Afinal, se o Deus de Israel era o mais poderoso entre as nações e a guerra entre elas era a guerra entre os deuses dessas nações, como que o Deus de Israel (o mais poderoso) poderia ter perdido para Marduc, deus da Babilônia?
Assim, os eventos históricos, sociais, políticos e econômicos que advém sobre o povo de Israel se mostram, também, responsáveis por alterar a imagem de Deus que o próprio povo passa a ter.
O Novo Testamento, já em ambiente monoteísta judaico, revela uma nova imagem de Deus. Este, que é chamado por Jesus de Abba, não é apresentado mais como o Senhor dos Exércitos que aniquila seus inimigos. Antes, é apresentado como o Pai amoroso, que ama a todos e todas e deseja que todos e todas sejam salvos e se acheguem a eles. A imagem de Deus, a partir de Jesus, é revelada como Amor e nada mais ou nada menos que isso, o que, por sua vez, demanda daqueles e daquelas que se dizem seus seguidores que tenham as mesmas atitudes que ele teve.
Assim, se Jesus se mostrou como homem que rechaça a violência, seus seguidores e seguidoras devem também “guardar suas espadas”; se Jesus se mostrou como alguém que anda com os marginalizados e oprimidos, dando-os alento e curando-os, assim também seus seguidores devem fazer, lutando pelas causas dos que não possuem quem os defendam, se Jesus amou seus inimigos a ponto de pedir que Deus os perdoassem, assim também seus seguidores e seguidoras devem fazê-lo.
Diante disso, uma religião que se diz ancorada nos ensinamentos de Jesus não deve apresentar mais a imagem de Deus como Senhor dos Exércitos, ávido por guerra e pela destruição dos inimigos. Antes, essa religião deve promulgar que Deus é pai amoroso que ama a todos e todas e deseja a paz e a comunhão entre todas as nações.
Assim, qualquer nação que se diz cristã e promove a guerra não pode ser considerada cristã. Antes, servindo ao deus capital, mostra-se como uma nação que sucumbiu à tentação do poder e, assim, afastou-se da mensagem central de Jesus que afirma que Deus é Amor e anseia a paz.