A tara de movimentos fundamentalistas por regimes autoritários
Imagem de Reimund Bertrams por Pixabay
Toda pessoa que estuda a questão do monoteísmo já deve ter percebido a estreita ligação que há com as questões das monarquias. A relação se mostra quase que evidente e, até mesmo, durante muito tempo foi usada para justificar os diversos poderes monárquicos em diversos territórios. Uma vez que existe somente um Deus, então só pode haver um representante seu na Terra, imbuído de exercer o seu domínio sobre determinada extensão. Mesmo que durante a época do império cristão na Idade Média o papa fosse considerado superior ao monarca, visto ser ele o responsável, como representante do poder espiritual, de consagrá-lo, a ideia continua a mesma: um Deus, um bispo, um rei.
Essa dinâmica, após todas as revoluções políticas e separação entre igreja e estado passou a ser de outra forma. Mesmo que a ideia ainda não tenha mudado tanto na igreja católica, seja Ocidental, seja Oriental, no qual a dinâmica monárquica, de certa forma, ainda é preservada na figura do Bispo de Roma ou no Patriarca de Constantinopla, no aspecto político isso já não tem tanta força assim. Basta observar que a maioria das monarquias existentes hoje no Ocidente se dá pela via da monarquia parlamentarista, onde o rei ou rainha nada mais são do que representantes da nação em eventos oficiais etc, sem poder efetivo de decisões.
Embora isso aconteça nos regimes políticos, ainda é possível perceber, no meio religioso cristão, principalmente na ala fundamentalista e conservadora, uma tara com o poder monárquico. Talvez, por isso, seja tão difícil aceitar a ideia de um Deus que, em sua revelação por meio de Jesus, não se mostrou como rei de toda terra, nem nasceu com as pompas com que os reis do oriente nasciam. Antes, nasceu humilde, longe dos holofotes e simples, como relegado entre os seus e, ainda que celebrem esse tipo de imagem no natal, a mentalidade de muitos dos cristãos fundamentalistas permanece com a imagem do monarca que deve ser obedecido e seguido com todo rigor. Colocando-se como juízes estabelecidos por Deus, veem-se na condição de condenar e julgar a todos e todas que não andam de acordo com o que entendem ser a vontade do senhor todo-poderoso.
Uma vez que as visões fundamentalistas são aquelas que trazem o sentimento de certeza sobre o certo e o errado, não é difícil de perceber porque os movimentos cristãos de caráter conservador e fundamentalista apoiam regimes totalitários e autoritários. Foi assim na Alemanha durante o Nazismo, na Itália durante o Fascismo, tem sido atualmente no Brasil governado por Bolsonaro, bem como nos Estados Unidos governados por Trump, sem mencionar, claro, o mesmo que acontece no Oriente com fundamentalistas de outras religiões. Em todos eles a marca do apoio por parte de setores conservadores e fundamentalistas é perceptível. Em certa medida, a tara por ter alguém a seguir que defina pautas nacionalistas que falem de “identidade nacional”, que defina o que pode e o que não pode, que fale o que é aceitável e o que não é, que defina os padrões de moralidade, de arte, de cultura se mostra uma característica marcante desses movimentos que, infelizmente, crescem ao redor do mundo, sendo motivo para se estar alerta e atento às suas invesitdas contra as democracias existentes na atualidade.
Do ponto de vista cristão, tomando por base o exemplo de Jesus de Nazaré, é dever se levantar contra esse tipo de discurso político e religioso. O monoteísmo cristão só faz sentido ao entender que o Deus único revelado em Jesus não é o monarca absoluto dos tempos bíblicos e medievais. Antes, o pai de todos e todas, que ama a todos e todas incondicionalmente e deseja que, assim como Jesus, amemos ao nosso próximo, lutemos pela vida e liberdade contra um sistema que gera a morte e escravidão. Em outras palavras, que deseja que sejamos tão humanos como Jesus foi e, portanto, avesso a todo discurso e regime que oprime os pobres e marginalizados desse mundo.