A soberba religiosa como impedimento para o diálogo inter-religioso
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A soberba, conhecida como um dos 7 pecados capitais, tem por sinônimo a arrogância. Em outras palavras, a pessoa soberba é aquela que se considera melhor que as outras, considerando-se, portanto, superior a elas, vendo-se em uma posição elevada em relação a qualquer outra que cruze o seu caminho.
Pessoas soberbas, geralmente, não são bem quistas, sendo mais suportadas do que desejadas nos diversos grupos das quais fazem parte. Da mesma forma, por se considerarem como melhores e superioras às outras pessoas, na maioria das vezes, não estão dispostas a ouvir posições que sejam diferentes das suas, por achar que determinada opinião ou determinado conhecimento não cooperarão em nada para o seu crescimento ou amadurecimento. Na verdade, pessoas soberbas acreditam piamente que já alcançaram o máximo de conhecimento que se possa ter em determinado assunto colocado.
Da mesma forma que existem pessoas que se tornaram soberbas, também as religiões podem seguir pelo mesmo caminho, passando a ter a mesma atitude de se considerar superior às outras e de se acharem como conhecedoras de todas as verdades do universo, não estando dispostas, portanto, a ouvirem o que as outras religiões têm a dizer a respeito do mundo, de Deus, e das origens e futuro do universo e da humanidade.
O cristianismo no Ocidente, desde muito tempo (e ainda hoje em muitos lugares) se mostrou como uma religião soberba, crendo que ela era a única religião correta, que sabia a respeito de todos os segredos da realidade humana, celestial e espiritual. Como consequência de sua soberba, passou-se a considerar superior a todas as outras, tapando seus ouvidos para os pensamentos divergentes aos que pregava, desmerecendo os conhecimentos trazidos por religiões muito mais antigas que ele, tais como as de matrizes orientais e as de matrizes indígenas, o que gerou diversos massacres em nome de Deus na história.
Assim como o cristianismo, outras também tiveram as mesmas atitudes nos lugares em que se tornaram hegemônicas e permanecem com a mesma atitude até dias atuais. Passaram a perseguir e matar aos que pensam de forma diferente ao que dizem essas religiões, privá-los de seus direitos e levar terror às suas vidas e famílias.
Infelizmente, são diversas as religiões que em alguns dos seus segmentos ainda fomentam uma atitude soberba em relação às outras, o que se torna um grande impeditivo para o diálogo inter-religioso.
Como sabemos, para que haja o diálogo é imprescindível que aqueles e aquelas que dialogam entre si considerem o outro que fala como portador da mesma dignidade de ser ouvido que acredita possuir. Em outras palavras, só há diálogo se as partes se considerarem como iguais em direito de fala, sem se considerarem superiores umas às outras. Dessa forma, não há espaço para a soberba em uma postura dialogal. Na verdade, a soberba se mostra como um grande impeditivo para que um diálogo inter-religioso aconteça. Afinal, como é possível dialogar com alguém se já se parte do pressuposto de que o outro me é inferior? Das duas uma: ou se ouve esse que se considera inferior como ato de bondade, tal como se ouve uma criança explicando sobre alguma experiência que teve, ou se ouve para pegar os erros na argumentação para daí poder “ensinar o caminho correto”. Nas duas opções o que se há não é diálogo, antes, postura soberba em relação ao outro.
O diálogo inter-religioso, tão necessário em dias atuais, só pode haver se as religiões deixarem de lado a soberba e passarem a considerar umas as outras como iguais em direito de fala, compreendendo que religiões diferentes falarão das realidades de formas diferentes.
Isso, por sua vez, não tem a ver com abrir mão de sua própria identidade religiosa. Muito pelo contrário, é na manutenção da própria identidade que é possível um diálogo que visa o enriquecimento e o crescimento mútuo, de maneira que as religiões cumpram seu papel de serem uma luz e um norte em um mundo cada vez mais desorientado e que caminha, muitas vezes, tateando na escuridão.