A educação para a cidadania é também uma tarefa teológica

A educação para a cidadania é também uma tarefa teológica

Photo by Kenny Eliason on Unsplash


Há, de alguma maneira, certo consenso por parte das pessoas que tratam das questões políticas de que passamos por uma crise de representatividade, o que gera, claro, pensar em uma crise da própria democracia.

Se Maquiavel estava certo quanto ao fato de que o conflito é a base da vida política (e tudo leva a crer que ele estava), então as crises nem sempre devem ser vistas como algo negativo, embora o risco de se transformarem em algo penoso não deva ser descartado. No entanto, é preciso ter em mente que as crises também abrem a perspectiva da inovação e da criatividade para a resolução dos diversos problemas que assolam o mundo, e nesse sentido, tais crises também são oportunidades de exercer a esperança.

Ao se falar em uma crise de representatividade política na sociedade contemporânea, é comum também se mencionar o quão pouco, principalmente no nosso país, conhecemos acerca dos processos legislativos de tomada de decisão.

Embora também se acredite que tal realidade se manifeste em diversas democracias ao redor do mundo, em nosso país isso é notório. Tal desconhecimento é fruto de uma educação que não se atenta para a necessidade de que tais temas sejam largamente abordados nos currículos escolares.

Uma educação para a cidadania, embora conste em diversos discursos e projetos pedagógicos de alguma maneira, aparentemente, tratam principalmente dos princípios que norteiam a vida em comunidade, ou dos valores esperados dentro de determinada escola, visando a vida cotidiana na sociedade escolar em que determinada família está inserida.

São poucos os projetos pedagógicos que também incluam uma educação do processo legislativo como um todo, ou seja, como são feitas as leis, como são propostos os projetos que as geram, quais as funções daqueles e daquelas eleitas para nossa representação nas diversas Assembleias e Câmaras legislativas do país etc.

Claramente, não podemos esquecer da necessidade de que o próprio Poder Legislativo também tenha em mente sua função educativa, sendo conjuntamente responsável para promover uma educação legislativa tanto para os governantes quanto para os governados, visando fortalecer o processo democrático e, claro, fortalecer entre a população o seu senso de necessidade. Afinal, em uma crise de representatividade, como a que observamos hoje, o próprio papel do legislativo pode se tornar questionável, se esse não se empenhar no fortalecimento de uma educação para a democracia que perceba e valorize a importância do regime das leis em um estado democrático de direito.

O que isso tem a ver com a teologia? Absolutamente tudo.

As teologias, em suas funções públicas e políticas, também devem ser agentes catalisadoras para a formação cidadã da comunidade na qual é feita. O lugar dessas teologias não é em um plano espiritual, mas no chão do mundo, visando a transformação da sociedade em uma comunidade mais justa, igualitária e solidária.

Em outras palavras, o fortalecimento da democracia, que passa por essa educação cidadã, não somente de valores, mas também dos processos legislativos, é também uma tarefa que as diversas formações teológicas do país precisam se atentar, caso queiram ser vozes dignas de serem ouvidas em uma sociedade democrática.

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