O perigo da superficialidade
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Vivemos em um mundo em que a superficialidade parece estar crescendo a cada dia. Com os adventos das redes sociais e as novas profissões de influencers digitais é possível perceber o aumento de conteúdos rasos espalhados pela rede. Obviamente, mesmo que não seja preciso informar, é sempre bom lembrar de que há muita coisa boa acontecendo e sendo transmitida nas diversas redes sociais que temos hoje em dia, de maneira que não se deve jogar o bebê com a água da banheira fora. Saber buscar as boas coisas na rede é um trabalho mais que necessário para nossa contemporaneidade.
No entanto, como se sabe muito bem, a parcela de conteúdo superficial é muito mais fácil de ser encontrada do que aquela de boa qualidade. Tal superficialidade, por sua vez, não tem a ver somente com assuntos pouco relevantes que fazem parte da vida cotidiana. Quanto a esses, acredito que estejam ali mais para diversão do que propriamente para informarem alguma coisa.
O que gostaria de refletir neste pequeno texto é sobre os assuntos importantes de nosso tempo que têm sido tratados em muitos lugares (principalmente nas redes sociais) com uma superficialidade imensa. Basta ver alguns comentários ou vídeos sobre a guerra da Ucrânia, ou sobre as eleições no Brasil, ou ainda sobre as questões climáticas atuais.
Muitas vezes o que se ouve são somente opiniões muito pouco fundamentadas que servem somente para “causar na rede”, tornar determinado apresentador/a ou blogueiro/a famoso/a por algum tempo, de maneira que tal pessoa tenha alguma ascensão na rede em que está inserida para, assim, conseguir novas oportunidades de publicidade em seu canal ou Instagram
Tal superficialidade, na maioria das vezes, gera um grande desserviço à população, que em muitos casos considera tais redes sociais como suas fontes privilegiadas de informação e passam tal “conhecimento” à frente. As fake News estão aí há um bom tempo, mostrando o poder que as redes sociais têm para elaboração de mentiras, destruição de reputação e, no caso do Brasil, até mesmo um golpe de Estado foi fomentado por elas.
Tal superficialidade não está somente nas redes. Se olharmos para o meio cristão também é possível perceber a grande superficialidade com que diversos/as líderes religiosos/as falam a respeito do texto bíblico e da fé cristã. O uso de textos fora de contextos, a arbitrariedade com que algumas passagens bíblicas são usadas chegam a estarrecer quem conhece, minimamente, tanto o texto bíblico quanto a história dos dogmas cristãos.
Da mesma forma que as fake News, tais superficialidade geram um dano enorme. Como exemplo, tome o crescente fundamentalismo cristão em diversos países, misturado com um populismo religioso que, como sabemos, causam a opressão do povo, lançando sobre ele fardos superpesados, os quais esses fundamentalistas não têm o menor interesse em ajudar a carregá-los, tais como os fariseus hipócritas condenados por Jesus em Mateus 23.
Combater a superficialidade, por sua vez, não é tarefa fácil. Afinal, demanda estudo, tempo, disposição para ir mais fundo nas questões que surgem na atualidade. Numa sociedade que está sempre com pressa, parar e analisar são, de alguma forma, atitudes subversivas demais. No entanto, esse movimento é necessário e, sem ele, a própria sociedade tende a um fim não muito promissor.
A teologia, como parte da sociedade, precisa estar atenta a isso e não sucumbir a tal armadilha, mas buscar sempre a seriedade e profundidade em seus argumentos e asserções, sem perder a mansidão e o amor, de maneira que possa contribuir para a melhora da sociedade em que está inserida.