Sobre o Evangelho e a Promessa: indicações a partir de Moltmann

Sobre o Evangelho e a Promessa: indicações a partir de Moltmann

Jürgen Moltmann (Divulgação)


Moltmann é, sem dúvida, um dos maiores teólogos protestantes do século 20. Dentre seus inúmeros trabalhos, Teologia da Esperança, lançado na década de 60, traz um grande estudo sobre escatologia.

Tal esperança, por sua vez, segundo o pensamento moltmanniano tem íntima relação com a promessa que é feita por Deus a seu povo. O próprio evangelho da revelação deve considerar a dimensão da promessa, uma vez que, segundo Moltmann

o evangelho da revelação de Deus em Cristo estará, portanto, ameaçado de mutilação e ruína, se nele não se considerar a dimensão da promessa. Da mesma forma, corrompe-se a cristologia, se nela não se vê o “futuro de Cristo” como um elemento constitutivo (MOLTMANN, 2005, p. 182).

Nesse sentido, Moltmann vê problemas nas propostas das cristologias antigas, seja a de perspectivas descentes, seja na de perspectiva ascendente (da existência humana na história). Com relação às de perspectivas descendentes, o problema está em identificar o Pai de Jesus Cristo com o Deus da metafísica grega. Com relação, às perspectivas ascendentes, o problema se encontra em desconsiderar que a autocompreensão da existência humana na história foi revelada por meio de Jesus Cristo (cf. MOLTMANN, 1971, p. 158-159).

O problema que Moltmann vê nessas cristologias é que esses dois modos partem do universal e encontram o universal no concreto o que, segundo ele, não corroboram o Antigo Testamento em seu caminho.  Para Moltmann, é importante lembrar que o sentido de Jesus para todos os seres humanos tem o Antigo Testamento como pressuposto necessário o que implica assumir que foi Javé quem ressuscitou Jesus dos mortos e, assim, o Deus que se revela em Jesus resulta de forma única da diferença e identidade com o Deus do Antigo Testamento, bem como o fato de que Jesus era judeu, o que implica que o ser humano que Jesus foi resulta do seu confronto com a lei e a promessa do Antigo Testamento. Dessa forma, a proposta de Moltmann é que partamos do histórico para o universal e não o contrário.

As propriedades de Deus devem ser pensadas por meio da memória e da narração da história de sua promessa o que implica que o caminho vá do concreto para o concreto universal. Não é o universal que se torna concreto em Jesus, mas o evento Jesus, sua morte, crucifixão e ressurreição por parte de Javé, que é o Deus da promessa, torna-se universal por meio do horizonte universal e escatológico que cria.

Para nosso teólogo, a ressurreição como símbolo escatológico significa que no Cristo crucificado já começou o futuro da ressurreição e da vida eterna, da destruição da morte e da nova criação.

A ressuscitação de Jesus é escatológica, pois ele foi ressuscitado para sua vida escatológica. Se isso acontece, a ressuscitação não pode ser evento da sua vida. A morte é histórica e a ressuscitação precisa ser escatológica. O momento escatológico da ressuscitação deve ser entendido como momento eterno de Deus. Se olharmos assim, a ressuscitação é sincrônica e diacrônica com todo o Jesus em todos os momentos da sua vida e pregação.

Assim, segundo Moltmann, é à luz da ressurreição que sua história é interpretada e representada retroativamente, mas ele é revelado para dentro dessa história a partir de seu futuro presente[1].

[1] Cf. MOLTMANN, Jürgen. O caminho de Jesus Cristo: Cristologia em dimensões messiânicas, p. 128-129.

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