Charlatanismo religioso: um pecado contra Deus
Imagem de Eric Perlin por Pixabay
O termo charlatanismo é definido pelo dicionário como a “exploração da credulidade pública, inculcando ou anunciando cura por meio secreto ou infalível”. Consequentemente, a pessoa charlatã é aquela que faz uso desse tipo de artimanha junto ao povo. Juntamente com a prática, comumente vem a questão financeira uma vez todas essas curas ou até mesmo milagres não vêm de graça, muito pelo contrário, é necessária a demonstração de fé (geralmente com dinheiro) daquele ou daquela que busca essa dádiva por parte das divindades.
Embora possa parecer algo recente, a ideia do charlatanismo já era presente no texto bíblico desde o Antigo Testamento, na figura dos adivinhos, que eram aqueles que “revelavam” o futuro para seus consultantes e, em troca, recebiam pagamentos pelos seus serviços. Uma vez que na religião judaica não existia a categoria de futuro enquanto algo pronto, mas somente como expectativa e consequência das escolhas do presente, toda tentativa de prever o futuro era condenada por Javé. No caso, por enganarem o povo afirmando algo que não era verdade, os adivinhos deveriam ser mortos apedrejados, para que o mal em Israel fosse extinto.
Em dias atuais, principalmente nos meios neopentecostais se vê um crescente de movimentos charlatões que usam a fé das pessoas simples e de bom coração para enriquecer o bolso de seus líderes. Toda e qualquer pessoa já deve ter ouvido falar sobre alguma campanha que tenha uma vassoura ungida, ou um óleo especial buscado em Israel, ou ainda garrafas com um pouco de água do rio Jordão, dentre tantos outros apetrechos sendo vendidos a fim de propiciar libertação, cura, ou qualquer tipo de alívio para o sofrimento humano.
Esse tipo de discurso, espécie de uma “magia cristã” muitas vezes referendada e institucionalizada, uma vez que apela para forças sobrenaturais e divinas aliado a um forte apelo emocional que na maioria das vezes gera medo das forças das trevas, faz com que diversas pessoas se sintam coagidas a pagar por esses apetrechos a fim de caírem nas graças de Deus e ter seus problemas resolvidos.
O charlatão ou charlatã, ao cometer um crime doloso para com a sociedade, peca contra Deus, uma vez que explora a fé dos pequeninos para angariar lucro para si, vendendo falsas esperanças, tais como os adivinhos do Antigo Testamento. Dessa forma, todo e qualquer discurso que tenta oferecer a graça de Deus com alguma contrapartida deve ser visto com grande desconfiança e, mais ainda, deve ser denunciado às autoridades competentes.
A graça de Deus, conforme anunciada por Jesus Cristo, em nada se coaduna com práticas de extorsão. Muito pelo contrário, a absurda e incompreensível graça de Deus se mostra como o terror de todo e qualquer charlatanismo, visto que não exige e não cobra absolutamente nada daquele e daquela que são alcançados por ela. Diante disso, é tarefa de uma teologia responsável denunciar toda e qualquer proposta charlatã que tenta negociar as bênçãos de Deus, ainda que seja transvestida de uma áurea de santidade e autoridade.
Deus, conforme anunciado por Jesus é aquele que faz vir sua chuva sobre bons e maus, que ama a todos e todas indiscriminadamente, desejando que tenham vida em abundância sem exigir nada em troca. Em outras palavras, é um Deus de amor e, como todo amor, é gratuito e livre, de maneira que nada precisa ser pago para experimentá-lo.