Dialogar: sabemos o que é isso?
Foto de Sebastian Pandelache na Unsplash
É muito comum ouvirmos em nosso dia a dia que o diálogo é algo necessário e, possivelmente, nenhuma leitor ou leitora desse texto discordará de tal afirmativa. No entanto, a primeira pergunta que se deve fazer antes de se abordar qualquer tema a respeito dos diálogos é, justamente, a respeito da categoria do diálogo. Embora se pareça algo que o próprio senso comum dá conta, na vida diária é possível se perceber que, muitas vezes, os conceitos mais fáceis são aqueles mais difíceis de se colocar em prática.
O dicionário Houaiss define o diálogo como “trocar (interlocutores) opiniões, comentários etc., com alternância dos papéis de falante e ouvinte; conversar”, e como “procurar entender-se [com outra(s) pessoa(s) ou outro(s) grupo(s)]”. Essa definição, por si só, já esclarece alguns pontos sobre os quais é necessário certa atenção (HOUAISS, 2001, p.1031).
Em primeiro lugar, trata-se de uma troca de opiniões. Por mais simples que se possa parecer, é importante observar que, para que se haja esse troca de opiniões é necessária a presença tanto de um outro, como também das opiniões diferentes a serem trocadas. Do contrário, não faz sentido se fazer trocas de opiniões quando as duas são iguais, uma vez que, se dois falam a mesma coisa, um deles está sobrando (Cf. MOLTMANN, 2004, p. 29).
Diante disso, a presença de um outro que pensa diferente se mostra como tarefa imprescindível para que haja algum tipo de diálogo. O outro, aquele que se coloca como o que vem de fora, é condição sine qua non nesse processo.
Um segundo ponto que chama a atenção é que o diálogo é um procurar entender-se com outras pessoas e grupos. Nisso reside o uso daquilo que chamamos de empatia. A busca do entendimento a respeito da posição do outro implica em atentar para o que outro tem a dizer sobre determinado assunto, na tentativa de compreender seus pontos de partidas, caminhos e chegada.
Disso, é possível dizer que para que o diálogo seja efetivado, a disposição para a escuta é tarefa salutar. Não há como dialogar quando se há somente uma fala e não é possível fazer uma troca séria sem ouvir e atentar naquilo que se está trocando, seja uma mercadoria, seja opiniões sobre o assunto.
Diálogo e empatia, dessa forma, são tarefas que se entrecruzam. Não há diálogo sem empatia para como aquele ou aquela com quem quero dialogar. Assim, o diálogo se mostra como desafio duplo: ao mesmo tempo em que é um convite para o acolhimento do diferente em sua diferenciabilidade, também o é ao nos desafiar a ouvir profundamente o outro naquilo que ele tem a nos dizer de sua realidade e visão de mundo. Não tem como tentar fazer qualquer tipo de diálogo sem ter consciência daquilo que se espera dele.
Com isso em mente, parece-nos claro que dialogar não tem a ver com o convencimento. A partir do momento em que há o convencimento do outro, encerra-se o diálogo; passa-se a ser uma partilha ou algum tipo de ensinamento a respeito do tópico que, anteriormente, estava em questão.
Infelizmente, muito dos chamados diálogos ecumênicos e inter-religiosos que vemos em nossos dias seguem nessa toada, disfarçados de diálogos, nada mais são do que tentativas de proselitismo.
Nesse ponto, também é papel da teologia ser fomentadora do diálogo, de maneira a cooperar para uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceito e discriminação.