De que teologia falamos quando falamos de teologia?
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De que teologia falamos quando falamos de teologia? Essa pergunta, por mais sem sentido que possa parecer a algumas pessoas, é fundamental de ser feita em nossos dias, principalmente por aqueles e aquelas que desejam se enveredar pelos caminhos da teologia.
Como é sabido, há diversas teologias feitas. Desde os tempos bíblicos, é possível perceber esse leque de discursos a respeito de Deus que varia de acordo com o tempo, o local, a condição econômica, social e cultural de quem os estão fazendo. A teologia presente, por exemplo, no livro de Deuteronômio é diferente daquela que está presente no livro de Jó, que é diferente da que encontramos em Provérbios e por aí vai.
No Novo Testamento acontece a mesma coisa. A teologia paulina se difere em muitas coisas daquelas desenvolvidas nos Evangelhos, que por sinal, também são diferentes entre si, o que somente nos mostra que a pretensão de uma teologia única e monolítica já é, de saída, algo fadado ao fracasso.
Em dias atuais e em diversos círculos teológicos, ainda é comum aqueles e aquelas que desejam uma teologia única, imutável, escrita em pedra e, portanto, sempre com as mesmas posições a respeito de tudo. No lugar de uma inteligência da fé, que pensa a partir das realidades de seu tempo para, assim, propor alguma coisa a ele, preferem o engessamento e as formas fechadas de se falar a respeito de Deus, da salvação, da vida eterna, de Jesus Cristo etc.
Essas formas fechadas, por sua vez, trazem segurança e conforto para aqueles e aquelas que as anunciam, visto que tais teologias já possuem todas as respostas para todas as questões que foram, são e serão elaboradas pela humanidade. Em um malabarismo gigantesco, forçam a literalidade do texto para que ele diga aquilo que querem que ele diga. Em outras palavras, desejam a todo custo moldar o mundo ao texto, fazendo com que aquele se encaixe neste. Com isso, “está escrito” se torna um mantra comumente repetido pelos amantes das formas fechadas de se fazer teologia.
No entanto, como já dissemos, há diversas formas de se fazer qualquer teologia e, na verdade, de se fazer diversas teologias de diversos modos, numa combinação absurda de possibilidades. Esse, talvez, seja um dos grandes desafios para a teologia contemporânea: frente às diversas novidades e descobertas feitas pela humanidade através da filosofia, ciência, arte, dentre tantas outras, como fazer com que a teologia (no caso, aqui, cristã) se torne, de alguma maneira relevante e digna de ser ouvida?
Claramente, a resposta para isso não é simplesmente relativizar toda a teologia e fazer com que ela se torne como um camaleão que assume a cor do local em que se está. Tal atitude seria somente a negação de um fundamentalismo através da ausência de fundamento, o que, obviamente, não é algo que tende ao sucesso.
Nesse ponto, é sempre importante lembrar que a teologia cristã não nasce a partir da razão, mas, sim, a partir da experiência que se faz com a pessoa do Ressuscitado. É a partir desse encontro, a partir do sim que damos a ele que a teologia nasce como resposta a um dom recebido. Isso não quer dizer que a teologia é algo que se faz somente com o sentimento. Claro que não. No entanto, ela também não deve ser feita somente a partir da racionalidade seca, sem o incômodo que tal encontro que mencionamos gera.
Até hoje, muitos de nós queremos fazer uma teologia somente racional, colocando de lado a experiência, a espiritualidade, a mística, como se tais coisas fossem empecilhos para se falar teologicamente correto a respeito da fé cristã. Ledo engano. Afinal, se somos chamados e chamadas à relação com Deus, essa relação não é desprovida de experiência, como se pudéssemos alcançar a Deus somente pela razão.
De qual teologia falamos? Daquela engessada, da meramente racionalizada, ou daquela que nasce a partir da experiência com Jesus e, como resposta, ouve o seu tempo, reflete à luz do Evangelho e, então, diz algo à sociedade?