Quantas pessoas amamos no ano que passou?
Foto de Vitali Adutskevich na Unsplash
O final do ano se aproxima. Para muitas pessoas, esse é um momento de grande alegria, de passar com os amigos e amigas em algum lugar divertido, com músicas, comidas e danças; para outras pessoas é um momento para se rever os familiares, aproveitando o feriado do Natal e da virada de ano, alegrando-se por ter a oportunidade de estar com eles no início de um novo ciclo. Infelizmente, para outras pessoas é um momento de tristeza, seja devido à morte de algum ente querido, seja por causa de alguma enfermidade ou, ainda, alguma outra adversidade.
Para várias outras, principalmente as que se dizem cristãs, é o momento de passar nos cultos de viradas de ano. Muito comum nos meios evangélicos, essa vigília que geralmente começa às 22:00 e segue até a virada culmina ou com um momento de oração na passagem para o novo ano, ou, ainda, com a Eucaristia. Ambos os momentos, na maioria das vezes, simbolizam o desejo de se estar mais próximo de Deus e daquilo que Ele deseja no novo ano que se inicia.
Com essa celebração, é muito comum que se apareçam as cobranças espirituais que alguns pastores e pastoras amam fazer no meio evangélico. Perguntar sobre quantas almas foram ganhadas para Jesus no ano que passou, pelo menos nas décadas de 90/2000, era uma das mais características. De alguma maneira, aparentemente, tinha-se a ideia de que o compromisso que se tinha com Deus era medido pelo número de prosélitos que cada pessoa conseguiu conquistar no ano que se encerrava.
Em minha experiência, tal chegada de final de ano era uma espécie de contabilidade para a qual você deveria prestar contas e receber o selo de aprovação do ano que passou, com a certeza de que havia sido um bom cristão em sua tarefa evangelizadora.
Claramente, tal proposta não é a que encontramos nos Evangelhos. Em nenhum deles há a ordenança de fazer prosélitos. Na verdade, em uma das críticas de Jesus dirigidas aos fariseus estava justamente isto: fazer um prosélito.
A ordenança dada por Jesus é de anunciar o Evangelho a toda criatura, o que não implica converter outra pessoa ao cristianismo, ou fazer com que ele pense da mesma forma que nós pensamos. Esse anúncio do Evangelho tem a ver com uma nova forma de viver, que toma por base o exemplo de Jesus, sua vida de entrega e amor para com todas as pessoas. Tem a ver com a mensagem cristã por excelência, que afirma que Deus ainda ama e se importa com a humanidade e, por isso, reconciliou-se com ela, entregando-se totalmente em favor daqueles e daquelas a quem ama.
Tal mensagem, por sua vez, ao invés de nos fazer pensar em um mundo no além, quando bem compreendida nos mostra que a esperança cristã deve ser ativa no mundo, deve lutar pela sua transformação, mostrando nuances do Reino de Deus que aguardamos em sua plenitude.
Com isso em mente, a pergunta de final de ano a ser feita para as pessoas que se dizem cristãs não deveria ser “quantas pessoas você ganhou para Jesus este ano?”, cobrando-as para que sejam vendedoras da salvação, mas, sim “quantas pessoas você amou este ano?”, uma vez que o amor, pelo menos conforme entendido no cristianismo, é de graça, não exigindo nada em troca.
Nesses momentos que antecedem o novo ano que chega há esse convite para que repensemos o quanto amamos no ano que passou, o que é o mesmo que refletir o quanto nos tornamos mais parecidos com Jesus. Repensar isso, porém, não como uma cobrança de algo que deve ser cumprido para recebermos algum certificado. Antes, como reflexo do quão dispostos estamos para, a cada dia, caminharmos da forma que Jesus mostrou, que como cremos, é a forma que nosso Pai deseja.
Feliz Ano Novo!