De quem é a culpa?

De quem é a culpa?

Foto de Mael BALLAND na Unsplash


Na última semana, a Seleção Brasileira foi eliminada da Copa do Mundo FIFA 2022, após perder para a Croácia nos pênaltis. Claramente, diversos e diversas brasileiras ficaram superchateados e chorosos por causa da eliminação, especialmente porque se colocava muita esperança de que tal time poderia chegar ao hexa, após 20 anos sem vencer a Copa.

Da mesma forma, junto com a chateação vieram as buscas pelos culpados. As perguntas: “onde erramos?”; “Tite deveria ter colocado Neymar para bater o primeiro pênalti e não um garoto inexperiente na seleção?”; “Por que determinada ordem foi estabelecida e não outra?”; “o Brasil não deveria ter forçado a marcação na linha de frente faltando somente 4 minutos para o término do jogo?”; dentre tantas outras foi a tônica do programa que estava vendo, e acredito que essa mesma tônica tenha se repetido tanto na imprensa nacional quanto na internacional.

Essa busca por culpados, por sua vez, não é algo novo na história. O próprio texto bíblico faz questão de narrar tal questão em seu mito da criação, presente nos primeiros capítulos do Gênesis. Adão, após pecar, sendo questionado por Deus se havia comido do fruto que estava proibido de ser comido, responde acusando sua companheira, que por sua vez, acusou a serpente de a haver enganado. A serpente, claro, não foi perguntada e, por conseguinte ficou como a última a receber a culpa.

A busca por culpados, geralmente, é um dos primeiros mecanismos que utilizamos para nos eximirmos das responsabilidades que temos. Afinal, é muito mais fácil acreditar que outra situação ou pessoa seja responsável pelo mal que nos advém, do que pensarmos que fomos nós mesmos, por nossas atitudes e escolhas, que trouxemos alguma mazela para nossa vida.

Tal fato, por sua vez, não exclui as diversas possibilidades em que realmente é o outro o responsável pela nossa mazela. Basta pensarmos, por exemplo, em uma pessoa que é estuprada no meio da noite por algum homem. Tal pessoa não tem culpa nenhuma no fato e aquilo que ela sofre foi causado por outro. Nesse caso, falar que tal mal é de responsabilidade da pessoa que foi estuprada se torna extremamente cruel e pernicioso. Porém, infelizmente, diversos “cidadãos de bem” responsabilizam a vítima com frases do tipo: “o que estava fazendo andando sozinha a essas horas?”; “por que estava usando esse tipo de roupa? Claro que estava provocando.”, dentre tantas outras que poderíamos citar. Mas, excluindo-se esse caso e outros de mesmo princípio, o uso da culpabilização para se eximir de responsabilidades se mostra muito frequente e, infelizmente, numa sociedade que se prega que o erro é algo ruim e que você precisa vencer sempre, tal característica tende a se tornar cada dia mais acentuada.

Se o indivíduo contemporâneo é educado o tempo todo a ser aquele que vence, aquele que tem que ser o primeiro, aquele que não pode falhar, porque a falha gera prejuízo financeiro para ele e para a empresa em que trabalha, assumir os erros se torna algo que, não raras as vezes, gera medo e angústia muito grande, o que pode também gerar essa necessidade de culpabilizar outras pessoas.

Educar nossas crianças para a responsabilização se mostra tarefa importantíssima na sociedade contemporânea, de maneira que se tornem pessoas que tendem à justa medida entre aquilo que é de sua responsabilidade e aquilo que deve ser cobrado da sociedade como todo e do Estado como aquele que gerencia as diversas vontades dessa sociedade.

A teologia cristã pode contribuir muito com isso, desde que saia de seus muros e deixe de ser aquela que culpabiliza os outros, tornando-se, antes de tudo, aquela que acolhe e ajuda o ser humano a enxergar suas responsabilidades, bem como denunciar e lutar contra as estruturas de morte que oprime, violenta e mata pessoas e estados vulneráveis.

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