Toda guerra e toda violência devem ser condenadas
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Os reinos se estabelecem por meio das guerras. Isso, de alguma forma, pode ser considerado axiomático ao longo de toda a história. Reinos poderosos não se tornaram assim da noite para o dia e, da mesma forma, não caíram de repente. Tanto os processos de surgimento de reinos, quanto de suas derrocadas se deram por meio de guerras internas e externas.
Se olharmos para o Antigo Testamento, a guerra sempre foi a ordem do dia. Israel e posteriormente Judá, ao longo de toda sua história, se viram envolvidas em guerras contra as outras tribos e nações ao seu redor, de maneira que os momentos de paz podem ser considerados relativamente raros nas primeiras páginas da Bíblia. Essa dinâmica, por sua vez, ainda se mostra hoje em diversos lugares do mundo. Guerras e mais guerras constantes assolam diversas regiões por vários anos seguidos, de maneira que pensar tempos de paz ali parece algo raro.
A ideia do domínio pela guerra pode ser percebida também em diversos hinos cantados nas igrejas, nos quais se apresenta um Deus belicoso, senhor de exércitos que marcha contra seus inimigos para os destruir, a fim de garantir a glória de seu povo. Em outras palavras, muitos dos hinos cantados em diversas comunidades cristãs celebram um deus guerreiro, forte, destruidor e sem misericórdia, o que por si só já nos revela o quão distante alguns grupos de louvor se encontram da proposta de Cristo.
Quando nos voltamos para o Novo Testamento é possível perceber que este revela um outro tipo de narrativa. Ainda que o povo de Judá estivesse sob domínio do Império Romano e diversos confrontos se fizessem presentes no dia a dia do povo, não é nisso que a mensagem cristã se foca.
Muito pelo contrário, ela apresenta uma proposta totalmente diferente. No lugar da guerra, a pregação do amor, no lugar da intolerância para com o que é diferente, o chamado à escuta e ao acolhimento, no lugar das armas que geram morte, os atos de justiça que transformam a sociedade em uma comunidade melhor. No lugar dos reinos que são conquistados por meio de guerras sangrentas, a proposta de um reino no qual todos e todas são amigos/as e irmãos/ãs entre si, de maneira que toda violência contra outra pessoa seja condenada.
Mais uma vez, a proposta de Jesus apresenta uma subversão à ordem vigente. Tal subversão implica uma nova forma de se ver a sociedade, bem como uma nova de agir nela. Os ideais mudam, não se tratando mais de conquista de territórios, mas do estabelecimento de condições justas para que pessoas possam viver em harmonia uns com os outros.
Nesse novo Reino anunciado, os processos exploratórios não fazem mais sentido. Tanto o ser humano como a própria natureza são vistos em sua dignidade, como irmão humano e irmã natureza, se quisermos usar a linda relação estabelecida por São Francisco de Assis.
Da mesma forma, na proposta de Jesus uma escolha precisa ser feita: Deus ou o dinheiro. Afinal, como ele mesmo disse, não é possível servir a esses dois senhores. As guerras, como bem sabemos, visa ao acúmulo de território e depende de um capital que as sustente. Por esse motivo, não é de se admirar que a indústria da guerra seja uma das que mais lucram com o confronto bélico entre as nações. Servir a Deus, portanto, implica ser contra toda e qualquer guerra.
Na proposta do Reino de Deus anunciado por Jesus toda guerra e toda violência devem ser condenadas. No lugar, deve-se entrar as propostas de paz, de justiça, de solidariedade e de diálogo. Fazer isso é, de alguma forma, ser agente desse Reino de Deus que se inicia com Jesus Cristo.