Para se relacionar é preciso criar tempo
Para se relacionar é preciso ter tempo. Melhor ainda, é preciso estar disposto/a a criar tempo para tal tarefa. Por que digo isso? Ao longo da caminhada cristã já vi muitas coisas acontecendo nas igrejas no que tange à questão de relacionamento com Deus.
É muito comum que as pessoas que se convertem ou ainda se voltam para Deus (para usar um termo muito conhecido no meio evangélico) tenham um afã enorme de querer conhecer mais sobre Jesus e de ficar extremamente próximo a Ele. Quando olhamos, então, no movimento evangélico de matriz pentecostal, muitas vezes tal sentimento é mais fortemente incentivado por meio de diversas canções que trazem uma ideia de relacionamento tão próximo de Deus que em casos extremos se propõe a perda da própria identidade, transformando o sujeito em uma espécie de zumbi que recita jargões próprios do meio em que se está inserido.
Que tal relação não é aquela que o texto bíblico deseja que tenhamos com Deus, parece-nos claro. Contudo, o que gostaria de falar neste texto é mais sobre o tempo para a relação do que propriamente as peculiaridades que diversos movimentos cristãos apresentam quando se fala sobre se relacionar com Deus.
Que o afã sobre o qual falamos no início do texto seja algo importante, não temos dúvida. Quando conhecemos alguém e nos interessamos por ela, seja para amizade, seja para relacionamentos amorosos, o desejo de saber mais sobre a pessoa e descobrir seus gostos se torna presente e fazemos de tudo para a conhece-la melhor, a fim de agradar aquela pessoa, passando mais tempo com ela. Em outras palavras, criamos tempo para aquele e aquela a quem desejamos conhecer.
Mais ainda, a maturidade nos mostra que para relacionamentos fortes, o tempo é necessário. Tanto o tempo que se cria para estar com a outra pessoa, quanto o tempo que é necessário para a maturação do próprio relacionamento.
Muito raramente se constroem relações humanas duradouras em questões de dias. Justamente por sermos seres complexos, com personalidades, desejos e gostos diferentes, relacionar-se é sempre um esforço que somente se ambas as pessoas estiverem dispostas tal relacionamento seguirá adiante.
Quando nos voltamos para o relacionamento com Deus, acontece da mesma forma. Que só podemos amar o que conhecemos, já nos dizia Agostinho, em seu De Trinitate, no capítulo 10. E só conhecemos alguém se estamos dispostos a passar tempo com esse alguém.
Assim, todo desespero para se estar mais próximo de Deus o mais rápido possível na vida cristã se mostra sem sentido. Estar mais próximo de Deus é um processo de caminhada que dura a vida toda. Da mesma forma, estar mais próximo de alguém. Tal como o horizonte que a cada vez que nos aproximamos dele ele se coloca um pouco além, de maneira que estamos sempre conhecendo sem nunca conhecermos plenamente.
Compreender essa característica de um relacionamento é fundamental tanto para que a sede em relação ao outro seja constante, quanto para que não achemos que, de alguma forma, o conquistamos totalmente, de maneira que nada mais precise ser feito.
Se isso vale com relação ao relacionamento com Deus, a meu ver, também se mostra como verdade para os relacionamentos interpessoais.